segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Novas achegas ao estudo histórico aurorense: A passagem da Comissão Científica de Exploração pela Povoação da Venda Grande - Relatos sobre a Capela de São Benedito

Por: João Tavares Calixto Júnior (*).

Capela de São Benedito na Povoação de Venda Grande, distante 5 léguas da Vila de Lavras (1859) - José dos Reis Carvalho


     Viemos agora tomar pé neste breviário delineamento, intrínseco à pesquisa científica fundamentada, ao que diz respeito à elucidação da história eclesiástica do município de Aurora, denominado Venda Grande à época da passagem da Comissão Científica de Exploração pela região, em 1859.
     Eis, a partir da ênfase nestes traços, um pujante subsídio para não mais nos depararmos com a ambiguidade histórica, que norteia as teorias sobre a verdadeira origem desta urbe cearense. Malogrado, conquanto, é o entusiasmo dos aurorenses e simpatizantes, ainda, em ver versões díspares serem levantadas sobre a derivação pontual desta comuna. Conforme se salienta na literatura referente à história aurorense, existe "certa controvérsia" sobre a primeira igreja erigida no local. Para uns, foi a Capela de São Benedito, construída por um homem de cor vindo da Bahia, o primeiro domo. Para outros, a Capela do Menino Deus, levantada pelo Coronel Xavier cumprindo promessa feita à sua esposa.   
     Em solenidade realizada na Associação Beneficente Aurorense (A.B.A), em 10 de novembro de 1983, durante as comemorações alusivas ao primeiro centenário da autonomia política do município, viu-se Joaryvar Macêdo (Filho de aurorense da Jitirana, Maria Gonçalves Torquato), a convite de seu parente, o cel. Antônio Vicente de Macêdo (prefeito de 1982 a 1988), divulgar a sua “Notícia Histórica de Aurora”, publicada a posteriori na Revista do Instituto do Ceará, tomo XCVII, ano XCVII (Fortaleza, 1983), assim como em “Temas Históricos Regionais” (Fortaleza, 1986). Na ocasião, afirma o historiador, um dos mais abalizados nascidos em terras cearenses, ter sido a Capela de São Benedito a primeira construída no município. Aponta isto a dois simplórios fatos: As denominações "Aurora Velha" e "Aurora Nova", referentes aos locais das capelas de São Benedito, na primeira e Menino Deus na segunda; e ao fato da pintura feita por José dos Reis Carvalho durante a passagem da Comissão Científica por estre trato do Salgado.
      Sobre esta Comissão, primeira iniciativa genuinamente brasileira a objetivar explorar riquezas naturais do país, foi formada por alguns dos mais importantes estudiosos dessa época do império, e foi dividida em cinco seções, a saber: Etnográfica e narrativa da viagem, liderada pelo prestigioso poeta romântico indianista maranhense Antônio Gonçalves Dias, bacharel, professor de latim e história do Colégio Pedro II; Astronômica e Geográfica, por Giácomo Raja Gabaglia, matemático e lente da Academia da Marinha; Geológica e Mineralógica, pelo adjunto da seção de Geologia e Mineralogia do Museu Nacional desde 1849, Guilherme Schuch de Capanema; Zoológica, dirigida pelo já referido Manuel Ferreira Lagos e Botânica, dirigida por Francisco Freire Alemão de Cisneiros, médico respeitado e um dos mais conhecidos botânicos brasileiros, sobre o qual descreveremos, oportunamente, e em outro trabalho, o conteúdo de seu diário de bordo acerca de expedição na região do vale do Salgado e Cariri cearenses, com relativa minúcia.  
     Eram integrantes da comissão ainda como adjuntos, os seguintes: João Pedro Villa-Real, naturalista preparador, era irmão de Luiz Antônio Vila-Real, adjunto da seção de zoologia do museu desde 1855; Agostinho Vitor Borja Castro, matemático, futuro professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1872); João Martins da Silva Coutinho e Manoel Freire Alemão (sobrinho de Francisco Freire Alemão), futuros diretores do Museu Nacional (seções de Botânica e Geologia, respectivamente), e ainda, José dos Reis Carvalho, o célebre pintor e desenhista da comissão, professor de desenho na escola da Marinha.
     É do referido pintor, a autoria do primeiro desenho sobre Aurora: A pintura referente à Capela de São Benedito na Povoação de Venda Grande, região de Lavras feita aos 3 de dezembro de 1859. dia em que chegaram ao lugar, vindo de Lavras, a cavalo, pelas ribeiras do rio Salgado. Era a "Ribeira que sulcava a senda", que o poeta Serra Azul cita em um de seus mais brilhantes versos sobre sua terra natal..Descreve-a (a Capela), Barroso (1948, pág. 23), baseado em texto dos "Científicos", como estando: "inconclusa. Frontão Barroco minguado e frusto. Segundo a tradição, foi levantada à custa de esmolas angariadas por um pobre homem de côr, chamado Benedito. As paredes laterais ficaram sem reboco".
    O naturalista Freire Alemão informa também sobre o responsável pela construção da Capela:: "Sr. Benedito de tal, filho de Aracati (...) foi ele quem começou a igreja que serve de freguesia, cuja administração passou a outros e que está por acabar". (ALEMÃO, 2006, p. 216).
     Por ocasião de uma doença, este senhor fez uma promessa que edificaria uma igreja dedicada a São Benedito e, como era costureiro e pobre, o faria por meio de esmolas. Conseguiu angariar fundos procurando na corte deputados, senadores e obteve até mesmo ajudas do imperador e da imperatriz, dos frades de São Bento e de outras pessoas: "Este homem nos obsequiou muito, parece sisudo e honesto; mas há quem duvide de seu desinteresse e honradez". (ALEMÃO, 2006, p. 217).
     Freire Alemão escreve existir na Povoação da Venda, produção de diversos alimentos importantes como milho, mandioca, milho, feijão e arroz:."Esta povoação pertence à freguesia de Lavras, a sua cultura industrial consiste principalmente na plantação e preparação de fumo e na de alguns [tipos de] algodão, e em algumas engenhocas onde se faz rapadura e aguardente. Planta-se nas vazantes muito alho e cebola, que se exportam para vários lugares". (ALEMÃO, 2006, p. 220).
     Salienta ainda Alemão (2006, pp. 220-1), ser a Venda Grande uma região cortada pelo Rio Salgado, à época: "seco e só com poças e tem aqui o fundo de rochas". A Capela de São Benedito, que originou o nome do atual bairro de São Benedito - Aurora Velha, estava localizada em plano mais alto, e sobre camadas sedimentares que desciam até uma parte mais baixa onde, à esquerda do observador, estava uma região mais erodida. Talvez a erosão tenha sido realizada pela força das águas em épocas chuvosas, ou ainda pela água subterrânea, uma vez que Alemão descreve os poços e cacimbas existentes na Venda Grande.
     Observa-se, na pintura, o detalhamento na estrutura dos estipes das carnaúbas, Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore, palmeiras típicas do Nordeste brasileiro, frequentes na região Aurora-Lavras, ocorrendo com freqüência em terrenos salinizados e mal drenados, no entanto, extremamente resistente às semanas de alagamento na época das chuvas. Percebe-se a vegetação exuberante ao fundo e as carnaúbas que, em primeiro plano, se destacam mais ainda que o cruzeiro que lhes é próximo. Pode-se notar ainda que esta imagem foi tomada pouco antes da realização da cerimônia religiosa, momento em que pessoas se dirigiam para o edifício e nele adentravam. 
     Chama atenção nesta capela, o frontão com simples volutas, três portas na fachada encimadas por um pequeno óculo e duas janelas.  Trata-se, portanto, de uma capela menos modesta e que reflete o montante coletado pelo Sr. Benedito citado por Barroso (1943). Foi nesta localidade que tiveram, os da Comissão, a oportunidade de observar a brutalidade das auto-flagelações dos penitentes, assim como na Matriz de São Vicente Ferrer na Vila de São Vicente das Lavras da Mangabeira, onde cehgaram a passar mal ao ver as manchas de sangue dos da Ordem da Santa Cruz, a decorarem as paredes internas do Templo.
     Observa-se, conquanto, no que pode ser retirado das conversas entre o Benedito e o botânico Francisco Freire Alemão, não ser este, um escravo alforriado vindo da Bahia, como antes atentavam os historiadores. Desta forma, trata-se de cearense, de Aracati, falecido e enterrado no próprio cemitério da Capela da Venda aos 11 de dezembro de 1863 (Livro de Óbitos, Paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras da Mangabeira, Livro 5, pág. 39), encomendado o corpo pelo Vigário Antônio Pereira de Oliveira. Alencar.  
     Proveitoso se faz ainda comentar, diante do contexto inédito que o cerca, fato ocorrido em sessão extraordinária na Câmara Municipal de Lavras da Mangabeira em 5 de junho de 1863. Na ocasião, reuniram-se os vereadores lavrenses, a fim de informarem ao Presidente da Província (José Martiniano de Alencar) sobre uma solicitação do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império (Pedro de Araújo Lima – Marquês de Olinda), que advogava acerca de Benedito José dos Santos. (Ata da sessão da Câmara Municipal de Vereadores de Lavras da Mangabeira, 1863 - Arquivo Público do Estado do Ceará, APECE, DVD 5).
    No pedido, atesta o Ministro ao Presidente da Câmara lavrense (Raimundo Tomás de Aquino), que por eleição popular, Benedito teria capacidade para ser zelador da Capela de São Benedito (por ele edificada), ermida esta, filial da Matriz de São Vicente Ferrer. 
     Outra versão que acerca o "Mestre Benedito", e que cai por terra ao presente, é a de ter recebido ajuda do Imperador para a construção da ermida, pelo fato de gozar de estima por ter tido dois filhos combatentes da Guerra do Paraguai. Bem verdade, a famosa Guerra do Paraguai, deflagrou-se um ano após o seu trespasse (dezembro de 1864), não tendo tido, portanto, influência alguma na vida deste co-fundador de nossa querida terra mãe.
     Julga-se prócero, inferir ainda, que após a morte de Benedito José dos Santos, acentuaram-se os melhoramentos na outra Capela, a do Menino Deus construída pelo Coronel Xavier, que logrou êxito e permitiu o desenvolvimento da "Aurora Nova", principalmente após a chegada do Padre Agostinho Affonso Ferreira, assim como consta no antigo Livro de Tombo da Matriz do Menino Deus. Ficou o mesmo à frente da Capela (1864-1872), num momento em que a Povoação da Venda já passava a ser Distrito de Paz, e deu lugar, no final de 1872, ao lendário Padre Joaquim Machado da Silva (Padre Gangan), que assumiu como coadjudor em Lavras em janeiro de 1873, permanecendo até janeiro de 1874, afastado que foi devido a ter sido apontado, injustamente, de protagonizar um dos mais fatídicos acontecimentos de toda a história dessa região do Salgado: O assassinato de Hernesto Carlos Augusto, irmão da lendária Fideralina Augusto Lima, fato ao qual, se fará devida e necessária alusão em outra oportunidade. 
 
Juazeiro do Norte, Ceará, 3 de fevereiro de 2012.



(Direitos Reservados - Trecho extraído de obra em elaboração).

Referências Bibliográficas: 


ALEMÃO, F.F. Diário de viagem de Francisco Freire Alemão: Fortaleza-Crato, 1859. Fortaleza: Museu do Ceará, Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, 2006. 236 p.
ASSIS JÚNIOR, H. A Iconografia de José dos Reis Carvalho durante a Comissão Científica de Exploração. Tese (Doutorado em Ensino e História de Ciências da Terra), UNICAMP. 256 p. 2011. 
BARROSO, G. A Arquitetura dos Sertões. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 16 de out. 1948.
    
(*) Professor, ex-aluno da E.E.F.M. Monsenhor Vicente Bezerra




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Subsídios à História da Freguesia do Menino Deus - Aurora, CE.



Registraremos em rápidos traços neste ensejo, algumas achegas para a história da Igreja Católica Apostólica Romana no município sertanejo de Aurora, denominado outrora, e antes de se proclamar Vila d'Aurora, de Venda ou Venda Grande, pertencente em primórdios à circunscrição de Icó e posteriormente, Lavras da Mangabeira.
            Antes, entretanto, de quanto interessa neste tocante, lembremos que, de fato, não foi a atual igreja do Senhor Menino Deus de Aurora, o primeiro domo erigido nesta comuna cearense. Trata-se o primeiro, conforme adjutórios documentos recolhidos nas Paróquias de Icó, Missão Velha, Lavras da Mangabeira e na Cúria Diocesana em Crato, assim como em escritos dos mais abalizados historiadores cearenses, da Capela de São Benedito, solevada por Benedito José dos Santos, ao qual, oportunamente, e em outra ocasião, destacaremos.
            Importante diante do ineditismo que o cerca, pomos termo ao vertente delineamento observando o que consta no Livro de Tombo da Matriz do Senhor Menino Deus, escrito aos 30 de julho do ano de 1943 pelo Padre Murillo de Oliveira Campos, secretário da visita do Bispado Diocesano à citada Freguesia, em virtude da comemoração dos 50 anos de sua criação (1893-1943).
Segue na íntegra a transcrição da Ata solene com convenientes atualizações ortográficas:

Ata da Sessão Solene comemorativa do Cinquentenário da criação da Freguesia do Senhor Menino Deus de Aurora.

            “Aos trinta dias do mês de julho do ano de mil e novecentos e quarenta e três, nesta cidade de Aurora, Estado do Ceará, no Auditório da “Associação Beneficente Aurorense”, na presença dos Exmos e Revmos Srs. D. Francisco de Assis Pires (1), Bispo Diocesano, Pe. Vicente Augusto Bezerra (2), Vigário desta Paróquia, Pe. Januário Campos (3), Pe. João Begon, Pe. Francisco Blieste, estes dois últimos missionários da Sagrada Família, e de uma numerosa e seleta assistência, realizou-se a sessão solene comemorativa da criação da Paróquia do Senhor Menino Deus de Aurora.
            Antes de aberta a sessão foi cantado pela assistência um hino de saudação ao Exmo. Sr. Bispo, sendo as últimas notas abafadas por uma calorosa salva de palmas.
            Abriu a sessão o Revmo Vigário Pe. Vicente Augusto Bezerra que passou a presidência ao Exmo. D. Francisco.
            Em primeiro lugar, ocuparam a tribuna o Revmo Pe. Januário Campos, que proferiu brilhante e comovedora oração (ilegível), sobre a criação da Paróquia de Aurora, elogiando o desbravamento dos ex Vigários e enaltecendo a laboriosa obra espiritual e moral do Pe. Vicente Augusto Bezerra, que empregou e sacrificou a sua mocidade em fazer o bem a esta terra.
            Lembrou, também, a signa humilde e respeitável de Luiz Gonçalves Maciel (4), zeloso fundador, nesta terra, das confrarias de S. Vicente de Paulo, sob cujos auspícios foram celebrados estas festas.
            Terminando, fez uma linda e justa saudação ao Exmo. Sr. Dom Francisco.
            A Professora Ivone Macêdo (5) recitou uma encantadora poesia intitulada “Prece de uma Brasileira”. Em seguida usou a palavra o Revmo Vigário Pe. Vicente Augusto Bezerra, que numa piedosa alocução, disse da emoção que estava possuído, agradecendo a colaboração sincera de seus paroquianos para um desfecho tão lindo desta grandiosa festa.
            Agradeceu, ainda, com palavras cheias de reconhecimento, as referências feitas à sua pessoa pelos oradores dessa sessão. Leu a provisão que criou a Freguesia de Aurora e o certificado de posse do primeiro Vigário Mons. Vicente Pinto Teixeira, de saudosa memória.
            A senhorita Maria José, recitou a linda poesia “No Jardim das Oliveiras”. Com a palavra o Exmo. Sr. Dom Francisco de Assis Pires, Bispo Diocesano, fez uma conferência repleta de belos ensinamentos e luminosos conceitos em torno da situação atual do mundo, salientando a necessidade imperiosa de uma coação perfeita no seio pela Santa Igreja, onde não devem mediar desfalecimentos.
             S. Exa. multiplicando as razões porque se dignara compartilhando-se das alegrias desta festa que era (ilegível) ser esta Paróquia pela integridade da fé católica e de sua disciplina irrepreendendo almas das mais importantes da sua diocese. Destacou-se a pessoa do Revmo. Pe. Vicente Augusto Bezerra, pelo zelo ardente que abrasa a sua alma de sacerdote piedoso e apostólico.
            Finalizando, congratulou-se com o povo aurorense nas festas comemorativas da criação canônica da Paróquia.
            Numa demonstração de sadio patriotismo e de amor a nossa querida Pátria, foi encerrada a sessão com o “Hino Nacional”.
            E para constar, lavrei a presente ata que vai assinada pela mesa. Eu, Murillo de Oliveira Campos, servindo de Secretário, a escrevi e assino. Francisco, Bispo Diocesano.”

        _______________________________________x x x______________________________________

(1)    – Foi o segundo Bispo do Crato, natural de São Salvador na Bahia. Tomou posse aos 10 de janeiro de 1932, ficando à frente do Bispado até 21 de abril de 1955. Aposenta-se em 11 de julho de 1959. Faleceu em 10 de fevereiro de 1960 como Bispo Emérito.
(2)    – Foi o segundo Padre da Freguesia do Menino Deus da Vila da Aurora, e o que permaneu por mais tempo, tomando posse aos 18 de novembro de 1906, por provisão do Exmo Revmo D. Joaquim José Vieira, 2º Bispo do Ceará. Faleceu como Pároco desta Freguesia no dia 1º de fevereiro de 1953, na capital federal (Rio de Janeiro). A 16 de outubro de 1951 foi agraciado pelo Papa Pio XII com o título de Monsenhor. Faleceu o lavrense Vicente Augusto Bezerra aos 72 anos de idade, 50 anos de sacerdócio e 47 anos de Paroquiato nesta Freguesia, tendo sido homenageado com nome de rua no Distrito de Boa Esperança (hoje Iara, Barro, CE) e nome de Escola Pública em Aurora, cidade a qual dedicou a sua juventude em favor do seu desenvolvimento religioso e social.
(3)  – Aurorense, nasceu aos 19 de setembro de 1898, filho de Cândido Ribeiro Campos (Coronel Cândido do Pavão) e Ana Ribeiro Campos. Ordenou-se na cidade cearense de Sobral, aos 7 de março de 1925, celebrando a sua primeira missa, três dias depois em Canindé, CE. Foi vigário da cidade de Palmas, CE (hoje Coreaú), durante quatro anos, dez anos como pároco em Santa Quitéria (9 de fevereiro de 1930 a 5 de fevereiro de 1936), onde fez intensas reformas na atual igreja matriz, e três anos em Jucás, CE. Residiu e trabalhou vários anos em Iguatu, CE, onde exerceu o cargo de Coadjutor do então vigário Monsenhor Coelho e, depois, Capelão e Professor no Colégio Senhora Santana. Passou a residir em Fortaleza, em 1949, onde foi Capelão do Carmelo, Delegado de Ensino, Diretor do Departamento de Proteção ao Menor, Professor no Liceu e no Ginásio Municipal. Faleceu em 19 de dezembro de 1965, vítima de desastre automobilístico (desastre de jipe), na rodovia BR-13, proximidades de Cajazeiras, Paraíba, aos 67 anos, deixando saudades aos seus familiares, amigos e conterrâneos. É homenageado através de empréstimo de seu nome à uma rua na capital cearense (Parque Manibura), assim como à uma escola municipal em Iguatu, decorrente de seus importantes trabalhos enquanto diretor da delegacia de ensino.
(4)    – Era o Fabriqueiro da Freguesia do Menino Deus de Aurora, à época do Pe. Vicente Bezerra. Era o seu braço direito. Residia na casa situada vizinha ao casarão construído pelo Cel. Xavier e a casa do Prof. José Gonçalves Primo (Zezinho Saburá). Exercia ainda a função de boticário local, professor de música e ministrava os sacramentos na ausência do Pe. Bezerra.
(5)    – Nasceu em Aurora (9 de julho de 1921), filha de Antônio Landim de Macêdo (Quarto filho de Marica Macêdo e Cazuzinha do Tipi) e Rosa Teixeira Leite (Filha do Coronel Manuel Teixeira Leite). Foi professora pública de relevantes serviços prestados em Aurora e no Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira.




João Tavares Calixto Jùnior

Ver também em: lavrasce.blogspot.com

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ACERCA DO MONSENHOR VICENTE BEZERRA

Nasceu Vicente Augusto Bezerra aos 3 de agosto de 1880 na então vila de São Vicente das Lavras da Mangabeira, filho de Francisco da Silva Marques Bezerra e Olindina Augusto Bezerra. Estudou no Seminário da Prainha em Fortaleza, onde se ordenou sacerdote aos 28 de março de 1903. Atuou primordialmente como coadjudor em Lavras e Iguatu, tendo sido depois designado Vigário da Freguesia do Senhor Menino Deus da vila d’Aurora, onde tomou posse aos 18 de novembro de 1906, por provisão de 2º Bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira.
Encontrou a Paróquia aurorense em significativo atraso, tendo dado, durante o percurso traçado como Vigário, profunda contribuição na administração social e espiritual à comunidade de Aurora, figurando na história desta comuna cearense por ter sido o Pároco que por mais tempo permaneceu à frente de sua Freguesia (47 anos).
            Admirável era a assiduidade com que fazia a desobriga pelos ocultos mais distantes, assim como de prestar assistência a seus paroquianos. Era em toda parte o Vigário Catequista, ensinando incansavelmente aos aurorenses os princípios da Doutrina Cristã.
            Ao vasculhar o conteúdo dos antigos livros de autos e de tombo das Paróquias adjacentes, buscando-se subsídios para uma contribuição concreta sobre a história de Aurora, deparei-me com importante testemunho relativo ao legado do Monsenhor Vicente Bezerra, documentado pelo Padre Francisco de Luna Tavares (Pe. Luna), numa 2ª Feira de Páscoa, em 22 de abril de 1957.
            Seguem, extraídas do registro elaborado pelo Pe. Luna no Livro de Tombo remontante ao 2º Vigário da Paróquia aurorense (Pe. Augusto Barbosa de Menezes), algumas achegas sobre as realizações deste que foi um dos maiores contribuidores da história desta terra, que de forma recíproca, veio a homenageá-lo emprestando seu nome a um dos mais  apanhados educandários regionais, o Colégio Monsenhor Vicente Bezerra, no Bairro Araçá.
Em face de suas realizações espirituais, sabe-se que celebrava aos domingos ordinariamente perto do meio dia, em rigoroso jejum eucarístico, para que ninguém perdesse a Santa Missa, já que muitos vinham de longas distâncias. Foi graças a essa praxe que ainda hoje se vê grande afluência de gente da sede e dos campos à missa do domingo na Matriz, embora tenha se perdido a tradição da missa ao meio-dia.
Organizou na sede as Associações Religiosas e de modo essencial, o Apostolado da Oração, considerada na realidade, a mais importante na época. Fundou ainda dois centros do Apostolado nas Capelas de Boa Esperança, hoje Iara, e Cuncas, antes pertencentes à Aurora, hoje, a Barro.
As primeiras sextas-feiras do mês, ocorrência ainda hoje duradoura, desde logo se tornaram na Matriz verdadeiros dias de festa, em face do comparecimento dos devotos do Coração de Jesus em busca da prática da comunhão reparadora.
            A primeira comunhão solene das crianças foi outra prática promovida pelo Paroquiato do Monsenhor Vicente Bezerra, sempre detentor de especial carinho pelo Decreto Quam Singulari do Papa Pio X. Estas eram preparadas em tenra idade para a primeira comunhão e rigoroso era o ritual de preparação exigido pelo Pe. Vicente, insistindo desde cedo junto aos pais, e dirigindo-se a todas as catequistas da sede e dos sítios, para pedir-lhes todo o cuidado necessário à boa formação das crianças católicas. Tornou-se o dia da primeira comunhão na Paróquia uma data tradicional: 27 de novembro, assim como uma homenagem à medalha milagrosa da qual era devoto, desde aluno do seminário dos Padres Lazaristas. Reuniam-se centenas de crianças três dias antes, e acompanhadas de suas catequistas, iam para o retiro da primeira comunhão, evento este que não se conserva nos atuais dias, e que muito bem servia à conservação da fé do povo aurorense.
Neste tocante às realizações materiais, não foi o seu paroquiato provido de grandes construções. Não por falta de gosto ou interesse, mas tanto pelas crises sucessivas as quais passou a Paróquia, aliada ainda à sua natural “ingenuidade” em dirigir esses negócios. Era considerado o Pe. Vicente dono de uma “alma de criança”. Mesmo assim, foi responsável o sacerdote por boa parte da ampliação da Igreja Matriz, assim como de todos os altares e da torre, deixando-a com bom piso (mosaicada) e forrada.
Recebeu também o Cemitério, em sua gestão, diversos melhoramentos. Insistia o mesmo para que os túnulos fossem zelados, e deixou-o, desta forma, como um dos melhores existentes na Diocese. Foi o responsável pela construção da atual Capela da Boa Esperança (Iara) deixando-a concluída na parte interna e devidamente provida de alfaias.
Já na última década de seu governo enfrentou a construção da Capela do Tipi, considerada à época como zona próspera e de povo generoso. Conseguiu concluí-la com boa ajuda dos fiéis locais, fazendo-se vir a ser uma obra de grande vantagem para aquela gente.
Seus últimos esforços enquanto Vigário em Aurora se voltaram para a fundação e organização de um patronato, o qual tinha como intuito principal, dar assistência e instrução intelectual e moral à infância e à juventude feminina da época, desprovida de meios de sustento para estudos noutras cidades.
            Foi notadamente esta uma feliz iniciativa, e apesar de todo o esforço desprendido pelo cura para vê-la transformada em realidade, não conseguiu ver o mesmo a tal obra em poder da Paróquia. Embora ainda esperou-se ser confiada a religiosos a sua direção, não conseguiu formalizar o insigne religioso o seu idílio.  
            Preparava-se o Monsenhor Vicente Bezerra para celebrar as “Bodas de Ouro” de seu sacerdócio, o que iria ocorrer aos 28 de março de 1953, quando, atendendo a pedido, foi em 1º de fevereiro do mesmo ano, fazer no céu companhia a Deus, a menos de dois meses antes dos festejos de seu Jubileu sacerdotal.
Aos 16 de outubro de 1951 foi agraciado pelo Papa Pio XII com o título de Monsenhor, tendo sido antes, ocupante do cargo de interventor municipal (prefeito), nomeado logo após a vitória da revolução de 30, sucedendo a José Gonçalves Leite e antecedendo a Paulo Gonçalves . Faleceu o Monsenhor Vicente aos 72 anos de idade, 50 anos de sacerdócio e 47 anos de Paroquiato na Freguesia do Menino Deus, tendo sido, como já citado, o que mais tempo passou à frente desta Paróquia. Seu corpo foi sepultado no Cemitério de São Francisco no Rio de Janeiro, em área reservada aos clérigos de São Pedro, e no tempo oportuno, seus despojos mortais foram transladados para o mausoléu da família em Lavras da Mangabeira.
Sucedeu-lhe na Paróquia o já referido Padre Luna, quando por bula pontifícia de 9 de janeiro de 1957, foi nomeado Pároco, função já ocupada pelo mesmo como Vigário Ecônomo desde 1953, quando tomou posse em função do falecimento do Padre Vicente Augusto Bezerra, o lendário Monsenhor ao qual tanto deve reverência a fúlgida Aurora de Serra Azul.

João Tavares Calixto Júnior
Professor.