Por: João Tavares Calixto Júnior
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Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, Herói da Confederação do Equador |
O ruidoso ano de 1824 foi, entrementes,
de muita atribulação para a região que hoje, corresponde ao município de
Aurora. O propósito de emancipação dos estados nordestinos frente ao Império,
objetivando a criação de um estado novo, independente, ocupou por muito tempo o
pensamento dos lideres cearenses à época, principalmente de Crato e Icó. (Sugestão de pesquisa aos estudantes: A Confederação do Equador - 1824)
Liderado pela heroína Bárbara de
Alencar e seus filhos, inclusive um deles, morto em território aurorense
(assunto do qual nos atearemos em tempo oportuno), o movimento da Confederação
do Equador no Ceará ficou afamado como um dos maiores manifestos independentistas acontecidos no Brasil, em todos os tempos.
Interessante se faz ressaltar, embora não esteja ainda referido nos livros de história, que parte desta relevante
página da memória nacional tenha acontecido em Aurora, mais precisamente nas
imediações dos sítios Juiz e Crioulas, na ribeira do Salgado, à época,
território lavrense, ao qual veio Aurora a se desmembrar em 1883, apenas.
Salienta-se que por muito, estes registros historiográficos vêm sendo ignorados, e os aurorenses, áteis detentores desta afiguração
marcante, não foram informados, até então, da tão importante efeméride ocorrida em trechos do atual município..
Eis-lhes alguns excertos sobre este
episódio, apoiado em documentação apodítica, na qual a transcrição é retirada de
obra em elaboração:
1824 (26 de novembro) – Ocorre neste dia, um sangrento combate na Várzea
das Crioulas entre as tropas independentistas republicanas de Pernambuco e os
combatentes legalistas do Império, o último antes da capitulação no sítio Juiz,
episódio ocorrido em terras do atual município de Aurora, memorado como um dos
mais importantes de toda a história do Nordeste do Brasil.
1824 (29 de novembro) – Rendem-se no sítio Juiz, território pertencente
a Lavras, hoje Aurora, as forças de Pernambuco e Paraíba, que sob o comando de
Félix Antônio Ferreira de Albuquerque, ex-Presidente do Governo Provisório da
Paraíba, evadiam-se de suas terras, por ter sido esmagado o movimento
revolucionário da Confederação do Equador.
Procuravam, os revolucionários,
juntar-se ao exército de José Pereira Filgueiras e continuar a luta pela
independência dos quatro estados nordestinos (Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio
Grande do Norte), em relação ao Brasil, em terras cearenses. Cercados, e sem
esperança alguma de auxílio militar, uma vez que tinha sido assassinado em
Santa Rosa, Jaguaribe, Tristão Gonçalves, e Pereira Filgueiras havia sido
forçado a dispersar seus homens na serra do Araripe, capitulam, no Juiz, o Frei
Joaquim do Amor Divino Caneca (Frei Caneca) e seus companheiros de aventura
republicana às tropas legalistas do Major Bento José Lamenha Lins (Major
Lamenha), sob a promessa de que o imperador lhes teria piedade, e não os
enviaria ao extermínio.
Detidos no sítio Juiz, foram levados à
Vila de Lavras, donde partiram a pé para Recife aos 16 de dezembro, escoltados
pelo Major Fonseca, conhecido como Pastorinha.
Alhures transcreve-se aqui, passagem do
Barão de Studart na Revista do Instituto do Ceará (Tomo Especial – Parte
Cronológica, ano de 1824) sobre o sítio Juiz:
“Juiz é o nome de uma fazenda, que foi
dos Frades Benedictinos de Olinda, distante de Missão Velha 5 léguas
aproximadamente, situada desde a passagem da Ingazeira até o lugar Santa Cruz,
próximos às Creoulas no rio Salgado, na extensão de 3 léguas. Foi até certo
tempo administrada por Canuto José de Aguiar, um dos vultos notáveis da nossa
história militar. Pertence hoje ao Padre Cícero Romão Baptista por compra feita
à Ordem, representada pelo Abade Dom Gerardo Van Caloen”.
Sobre os presos no sítio Juiz, de Aurora,
eram eles, além do Frei Caneca (secretário da expedição): Félix Antônio
Ferreira de Albuquerque, Agostinho Bezerra Cavalcanti, Lázaro de Sousa Fonte,
João da França Câmara, Antônio Carneiro Machado Rios, Francisco de Sousa
Rangel, José Maria Ildefonso, Frei Antônio Joaquim das Neves, Pe. Lúcio Bento
de Ávila, José Gonçalves Morete, Frei João de Santa Madalena e outros. Alguns
fugiram em Goiana, Pernambuco, outros sofreram prisões, havendo sido executados
Frei Caneca, Agostinho e Lázaro.
De nada valera a promessa do Major
Lamenha Lins. Para João Brígido (pp. 33 e 462), esta malograda expedição de
quase 200 léguas, constituiu-se no maior sacrifício que já existiu na política
do Brasil, “... a retirada mais difícil que já se executou e a prova de fogo da
bravura dos homens de Pernambuco e da Paraíba”.
Em registros do próprio Frei Caneca datados de 24 de novembro de 1824, e
em transcrições feitas por Gilberto Vilar de Carvalho em: Frei Caneca: gesta da liberdade, 1778-1825, três dias após a sua
chegada ao território lavrense pelos sítios Umari (atual município de Umaria) e
Boa Vista vê-se o que se segue:
“No dia 24, mais um ataque pela
retaguarda, perto de S. Vicente das Lavras, que logo o capitão França rebateu.”
“A vila estava quase deserta, e as
casas dos liberais patriotas destruídas, segundo lá mesmo nos contaram, pelas
tropas do Rio do Peixe, quando por ali passaram atrás de Pereira Filgueiras.
Nessa estrada, quebrou-se a carreta da peça da retaguarda. Passamos muito mal
d’água, pois a região é seca.”
No dia 25 a força marchou para a
Fazenda Santo Antônio. “Apenas teríamos andado um quarto de légua apareceram
pela outra parte do rio uns tiroteios a cavalo, sobre os quais, dando a nossa
guarda avançada, dispersaram-se.”
“A caminhada estava cada vez mais
difícil. Para chegarmos à sobredita fazenda, tivemos de atravessar seis vezes o
rio Salgado. Quando sobrava água, faltava-nos comida.”
Conforme Dimas Macêdo em seus Ensaios e
Perfis, (Fortaleza, 2004), o fato de o bravo Frei realizar essas diversas
costuras sobre o Rro Salgado, foi majoritariamente, pensando, atingir Missão
Velha e a cidade do Crato. Mas é certo que jamais saiu do município de Lavras,
estacionando, inicialmente, na Várzea Redonda e, depois, na fazenda Juiz, dos monges beneditinos de Olinda (território aurorense), onde seria finalmente preso pelas tropas legalistas do
Major Lamenha aos 29 de novembro, segundo registros que se podem ler em seu
próprio Diário, e na referida transcrição.