Aos 13 dias de
outubro de 1916 deixou exarado o lendário Padre Cícero Romão Batista de Juazeiro, em
carta endereçada a Cândido Ribeiro Campos (Coronel Cândido do Pavão), sobre a
situação de perda de seu rebanho bovino, ora localizado em terras aurorenses. Segue
trecho do lançamento:
“... A paz de Deus o guarde e
família. Tendo precisão de fazer minha criação de gado e animais nesta
propriedade que comprei aos padres de S. Bento, mandei lá José Xavier e o meu
vaqueiro e disseram-me eles que o lugar que presta é o Pavão. Havia passado
procuração bastante ao Sr. José Xavier para tratar de qualquer negócio com
qualquer um que estivesse no lugar mais apropriado, e resolver, como fosse
justo. O Pavão foi o melhor que acharam. Portanto, não estranhe em exigir para
estabelecer-me que boto aí, eu perco o resto da criação que está mal colocada.
Portanto, lhe aviso que não posso mais arrendar aí, e em janeiro mandarei o
José e o vaqueiro para aí. A respeito de sua casa, cercados, indenizo por preço
razoável. Eu lhe digo com pena porque lhe desejo a si e a todos todo bem que
posso desejar, porém não tenho outro lugar que se preste para a criação que já
estou perdendo. É muito melhor que compre uma propriedade onde firme seus
trabalhos e deixe sua família colocada em propriedade sua. Reflita bem que verá
que é mais justo e melhor. De seu amigo e compadre.P. Cícero Romão Batista”.
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Sobre Cândido Ribeiro Campos (Coronel Cândido do Pavão), natural do sítio Antas em Aurora, sabe-se ter falecido em 1936, dia 24 de julho, conforme registro constante no Livro de Óbitos da Paróquia do Menino Deus de Aurora (Livro 7, 1932-1938, pág. 117).
Era filho de Matias Fernandes
da Silva (pedreiro que trabalhou na ampliação da Igreja Matriz em 1864) e Antônia da Encarnação Monteiro.
Substituiu o sobrenome
Fernandes da Silva por Ribeiro Campos, por ocasião de “qualificar-se”, para
tirar o título eleitoral. Foi um dos mais importantes chefes políticos
municipais, e pai do padre Januário Campos, ao qual oportunamente,
referenciaremos.
Casou-se
com Ana dos Santos (Naninha), instalando-se no sítio Martins, de seu tio
materno João Monteiro. Transferiu-se em 1902 para o sítio Pavão, antiga
propriedade do mosteiro de São Bento, de Olinda, à época, em poder do padre
Cícero Romão Batista, que a havia comprado. Era encarregado da cobrança dos
dízimos dos que ocupavam as terras sob o domínio eclesiástico, as quais mediam
três léguas de comprimento por uma légua de largura, de ambos os lados do rio
Salgado, estendendo-se do riacho dos Mocós até o riacho do Juiz.
Tornou-se,
por força da arrecadação das alíquotas, de grande confiança do Padre Cícero, o que lhe conferiu acentuada notoriedade, ocupando cargos importantes em
Aurora como o de Juiz substituto, Presidente da Câmara de Vereadores e Prefeito
Municipal (Intendente), cargo, este último, ocupado em face aos fatídicos episódios de 1908, onde, com a deposição do coronel Totonho do Monte
Alegre (Antônio Leite Teixeira Netto), assume ele, Cândido do Pavão, o cargo de Presidente da Intendência de 1908 a
1914, voltando posteriormente, de 1921 a 1926, a assumir as rédeas da biga municipal como prefeito. Relevante se faz ressaltar ainda, sua participação enquanto mandatário representante do município de Aurora, no famigerado "Pacto dos Coronéis", ocorrido em Juazeiro aos quatro de outubro de 1911.
(Trecho extraído de obra em elaboração - no prelo- Direitos reservados)
Sugestão de pesquisa aos alunos: O fenômeno do coronelismo no Nordeste do Brasil e o Pacto dos Conoréis).
João Tavares Calixto Júnior
(Biólogo da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, 21ª Coordenadoria Regional de Saúde, Juazeiro do Norte - CE; Professor do curso de Farmácia da Faculdade de Juazeiro do Norte; Doutorando em Biotecnologia de Recursos Naturais - Universidade Estadual do Ceará)