Charles Leite Bezerra*
O ser humano ostenta em sua essência o ato de
produzir, pois, o homem é o único animal capaz de criar e desenvolver
atividades de forma politicamente organizada, estando apto a suprir
necessidades físicas, biológicas e psicológicas.
A criação humana no escopo de saciar suas
indigências vai muito além do aspecto puramente material, abrange de modo
conciso o universo da imaterialidade, exteriorizado através dos símbolos,
valores, idéias e linguagem, dando origem ao fenômeno
antropológico denominado cultura.
Nesse sentido, a cultura torna-se o instrumento
pelo qual todas as comunidades explanam suas peculiaridades e características,
criando, por conseguinte traços culturais identificadores de um determinado
grupo étnico.
O poder legislativo no exercício de suas
atribuições legais, convicto do valor expressivo deste fenômeno para toda a
população, institui na sublime Constituição da República Federativa que, o
Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais, apoiará e
incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
No entanto, apesar do belo texto constitucional
ainda não temos a nível nacional um projeto de desenvolvimento e
sustentabilidade cultural.
A cultura popular amarga um incomensurável
declínio, basta ver o enfraquecimento gradativo do cordel, reisado, grupos de
penitentes, festas juninas, bandas cabaçais, forró pé de serra, cantadores de
viola e outras manifestações formadas ao longo do tempo.
Infelizmente, essas riquezas culturais não estão
resistindo aos efeitos do dinamismo global, diplomado a aniquilar toda a
película revestidora do costume e da tradição.
Cumpre lembrar que, os entes públicos são
adjudicados no dever de atuar não apenas no fortalecimento da cultura popular,
mas, sobretudo, no impulsionamento da cognominada cultura erudita, a
qual se patenteia por meio de práticas artísticas, tais como: pintura, dança
cinema, literatura, música, poesia, etc.
Há múltiplos séculos a humanidade evidencia o
alarmante grau de decomposição social, moral, ético e intelectual. Em meio a
esta degeneração caótica e aterrorizadora, desponta a cultura na configuração
de um mecanismo suscetível à desobstrução da ignorância, e de todas
as grades encarceradoras da maturação mental.
Sobrevindo tal desobstrução, naturalmente será
despertado o plano de consciência cogente ao extermínio das mazelas
responsáveis pela hodierna deterioração educacional.
Considerando o exorbitante nível de desinformação
impregnado no seio da coletividade, parece não haver interesse algum por parte
da máquina estatal em germinar uma sociedade culta e conhecedora dos seus
direitos.
Ora, é obvio, pois qualquer indivíduo dotado de
racionalidade entenderá que para os governantes é bem mais cômodo e fácil
ludibriar uma nação rude, alienada, analfabeta e desprovida de qualquer senso
crítico.
Nessa ótica, a ignorância é o sustentáculo do
domínio exercido Pela elite política maliciosa, inescrupulosa, sádica
e disseminadora da contrafação que paira em nosso meio social.
O cenário político revela a existência do repúdio ao princípio da
indisponibilidade pública, princípio basilar a leal efetivação do
exercício administrativo de toda e qualquer gestão pública. O interesse público
fora expurgado das esferas Federal, Estadual e Municipal,
predominando o privado, onde prevalecem os acordos, os estratagemas, e o
conluio fraudulento em face do erário público.
O Congresso Nacional, cúpula do poder legiferante,
baila num festival de denúncias e escândalos, ecoando descrédito e impunidade.
A integridade dos parlamentares facilmente sucumbe perante os encantos e
propostas da linda e atraente capital federal.
Sociedade, levanta-te, mostra tua fisionomia,
alardeia a bandeira da dignidade, ergue o teu grito em prol do pudor e da
moral, repila estes homens que se dizem políticos, mas que na verdade salvo
raras exceções não passam de abutres, sangue sugas do poder, filhos da
mentira e da corrupção, amantes do caos e da promiscuidade, corruptos
violadores da essência política, qual seja, o bem comum.
Para a exterminação peremptória do vírus hoje
instalado nas entranhas da conjuntura política nacional é imperativa a
concretização de uma reforma, não apenas neste setor, mas essencialmente no
tablado Tributário, Previdenciário, Administrativo e social, pois
somente a partir de uma idealização dessa dimensão, poderemos um dia
experimentar a justiça e a igualdade social em sua plenitude.
O saudoso jurista Rui Barbosa, quando no
gozo de toda sua genialidade e sabedoria afirmava “De tanto ver triunfar as
nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto”.
Almejo sinceramente que o Brasil nunca deixe submergir pelo decurso do tempo.
(*) Acadêmico do curso Ciências Jurídicas e
Sociais, Direito - Cajazeiras, Paraíba.