Belém,
Belém, Belém a sineta tocou, Dona Nazaré Freire deu o sinal, na porta da frente
entravam as meninas, na porta lateral os meninos, em fila a reza, o canto do
Hino Nacional, haja discurso e mais discursos, Padre França, Zezim Gonçalves,
professor Agostim, e lá pelas tantas Dr. Bastim com a sua retórica brilhante
foi logo falando da parábola da águia e da galinha era a manhã do dia 1º de
março do ano de 1976, eu não entendi nada, nem sabia quem era a águia nem
tampouco a galinha. Depois da vistoria das fardas, sapato, meia, cor, tamanho,
largura das saias das meninas, e haja vistoria, enfim todos para a sala.
Eu
corri na frente, corri mesmo e sentei no primeiro banco, ao meu lado sentou-se
a minha colega Eleusis Gonçalves, naquela época não existia carteira
individual, depois de muito corre-corre todo mundo sentou-se.
Um
minuto de silencio, um clima de interrogação pairava no ar, uma regra havia sido
quebrada, se bem que uma regra costumeira, pois nada havia escrito sobre a
regra, todos os meus colegas ficaram impressionados com a quebra da regra, o
meu colega Aderbal Alves gritou ! logo - Luiz Domingos e Eleusis vão sentar no
mesmo banco e ninguém diz Nada ?
-Eleusis perguntou qual é o problema se eu
escolhi sentar a lado de Luiz Domingos ? Aderbal Alves “disse Nega velha não
fica com raiva não é que eu não sabia que podia sentar com uma mulher ao lado”-
eu pensava que era proibido, no que Eleusis retrucou "se era proibido agora já
não é mais".
O
Aderbal falava isto porque ele namorava com a minha colega Margarida que também
era nossa colega e, na verdade, o Aderbal queria sentar ao lado de sua namorada
Margarida.
O
imbróglio, começou logo cedo, lá vem dona Nazaré Freire para separar o Luiz Domingos
de Eleusis, dona Nazaré Freire disse que era norma “homem sentar com homem e
mulher com mulher, sentar homem com mulher não era bom para a norma da escola”.
Eleusis retrucou: "traga a norma que diz isto que eu saio". Dona Nazaré foi buscar a
norma e ainda hoje deve estar procurando a norma que nunca existiu de fato e de
direito.
E
assim, ficou na frente Luiz Domingos de Luna e Eleusis, atrás imediato Aderbal
Alves Filho e seu irmão Aldenor Alves, no atrás imediato Francisco Djalma de Oliveira
e Raimundo Sávio Tavares, no atrás imediato Paulo Roberto Quezado e Paulo
Macedo e quem quiser que complete a turma, pois o espaço é pequeno para tanta
gente.
Entrou
Dr Bastim,saudou a turma e gritou de
forma amigável, “e o meu afilhado vai sentar ao lado da jovem Eleusis “– ai eu
respondi, sim padrinho Bastim é que eu tive pensando em sua parábola e entendi
que eu sou a águia não tenho vocação para ser galinha.
Dr
Bastim riu muito e jogou fora a bituca do cigarro e haja um show de matemática
pura, matemática pura e aplicada, tocou,mas a aula foi continuada o homem sabia
uma matemática e tinha uma didática tão fluente que na verdade ele brincava com
matemática e, assim se seguiu durante uma semana, todo mundo triste, e haja
tristeza, eu já estava ficando amarelo de tanta tristeza, pois não conseguia
acompanhar o raciocínio de Dr. Bastim, assim, no intervalo fui consular o gênio
da Sala Francisco Djalma de Oliveira. –
-Djalma
você está entendendo alguma coisa de matemática
– Ele respondeu mais ou menos, consultei o fera Raimundo Sávio Tavares também
no mais ou menos e tava todo mundo no mais ou menos.
A Eleusis minha colega de
carteira eu indaguei logo, e ai Eleusis tá entendendo matemática ?- ela pensou ou
pouco e me perguntou você quer saber a verdade – Sim, eu quero saber a verdade
pura – ela respondeu com toda sinceridade – Luiz, eu não estou entendendo é nada,
- como nada ? Se você é uma das mais inteligentes da turma. -E você,- perguntou Eleusis -Eu ? –sim, eu fico
sempre voando nas aulas de matemática. Pois quando tem aulas de matemática
todos ficam voando.
Assim entendi que todos os meus colegas eram águias – pois na
verdade todo mundo sabia voar bem nas aulas de
Dr. Bastim.
Na
terceira semana o Dr Bastim teve que viajar para Fortaleza, todo mundo bateu
palmas, pois seria uma semana sem aulas de matemática – um show, uma apoteose
na verdade um alívio da dor de não poder aprisionar o conhecimento dado por Dr
Bastim.
No
final de Semana todo mundo na ABA para
comemorar uma semana de alivio de matemática – até discurso teve, ora foi
criado logo a comissão de formatura que teve a frente a professora Aurineide
Fernandes Peixoto, afinal nós éramos ou não éramos humanistas ? Ser humanista
era ser o tal, visto em Aurora ainda não existir Ensino Médio- Científico.
Começou
na ABA logo, outra confusão, pois uns queriam
festa o costumeiro e outro
excursão. Nomearam o Dep. Antonio Leite Tavares com o Patrono e o paraninfo Dr
Plácido Leite Gonçalves o nome da turma foi dado a Aurineide Fernandes Peixoto
que aceitou prontamente, era tudo festa, era tudo fantasia, tudo um sonho, na
verdade, tudo uma forma utópica para esconder a matemática que ninguém sabia.
A
Realidade: Na segunda feira na primeira aula todo mundo esperando D. Nazaré para notificar a aula vaga ? Era
uma festa plena – quando de repente, não mais que de repente entrou o jovem acadêmico de Engenharia Elétrica
Hilton Domingos para substituir Dr Bastim, sem muitas delongas o jovem acadêmico colocou umas equações de matemática
no quadro negro, o verde veio bem depois, e haja colegas meus diante da
realidade pura, pura realidade, ninguém sabia
responder os problemas expostos.
O
Jovem acadêmico, vendo a dor da turma e o vexame também, disse em alto e bom tom vamos fazer uma avaliação dos conhecimentos
de vocês e fez uma prova com 10 questões,
a Mana Macedo fez a pergunta que todo mundo queria fazer – Professor esta
primeira questão a gente resolve como ? -no que o Hilton Domingos respondeu – muito simples pegue a forma e
deduza. Ai a classe parou – pois na verdade ninguém sabia a fórmula muito menos
a dedução da fórmula.
Francisco
Djalma de Oliveira de uma integridade que beira o absurdo e de uma sinceridade que
ninguém imaginava ao momento, disse em alto e bom tom -professor Hilton aqui
ninguém sabe matemática, nós estamos perdidos, na verdade nesta classe ninguém
sabe matemática – O que nós devemos fazer – perguntou Djalma , ao que o Professor
Hilton respondeu: façam, urgentemente, um grupo de estudos na casa de um colega
de vocês e selecione os aptos por área de conhecimento, de forma intensiva
durante pelo menos 4 horas por dia, incluindo os finais de semana.
O
meu colega João Bosco de Luna ofereceu logo a sua casa, bem como foi nomeado
chefe da turma, - A casa fica na Rua General Sampaio no centro de Aurora-
Ceará.
Na
hora do intervalo eu semeei logo a polêmica, de que adianta ter casa sem ter um
quadro negro ? Casa sem quadro negro não vale nada. Ora, o Colega Paulo Macedo,
vendo que eu estava desestimulando a turma gritou em alto e bom
tom eu e a Mana vamos dar uma camisa Tergal
Verão para uma rifa e com o dinheiro a gente compra o quadro negro – eu sempre semeando a polêmica indaguei quem vai
vender os bilhetes da rifa – Nisso Eleusis
tomou a palavra e disse categoricamente
nós - Todos nós – Ouviu Luiz, nós todos-
-é se for todo mundo, pode dar certo.
Paulo Macedo completou: já deu certo, e nisso nós fomos para o Armarinho da Sra Vanda Macedo na travessa Monsenhor Vicente Pinto e todo mundo pegou a camisa e, de lá, para a casa Bosco Luna para fazer a rifa e a entrega dos bilhetes. Com
uma semana tínhamos em Caixa uns 200
reais em valores atualizados e, em contato com o Sr Luiz Grangeiro de Luna,
ficou este, na responsabilidade de fazer o quadro negro e repassar para a turma
de aprendizes.
Da
escolha dos professores,- na verdade monitores!!!!
Francisco
Djalma de Oliveira ficou com a disciplina de Matemática a temida.
Eleusis
Gonçalves Leite ficou com a disciplina
de Desenho Geométrico
Mana
Macedo ficou com a disciplina de História
Aderbal
Alves Albuquerque ficou responsável pela pasta de Esportes e Recreação.
Raimundo
Sávio Tavares com a cadeira de Ciências.
Luiz
Domingos de Luna com a disciplina de Português.
O
ano todo de 1976 foi assim: estudo de manhã, estudo de tarde e estudo de noite.
Este
artigo foi escrito por ocasião dos 40 anos desta turma de águias que tem a frente o meu colega Francisco Djalma de Oliveira que, vendo a nossa luta na historia e na memória resolveu fazer a comemoração dos 40 anos no ano de 2016, no mês de julho,
com uma solenidade de integração de toda a Tuma de 1976 – humanistas 76 Colégio
Paroquial – creio assim, ter dado minha
colaboração com estas pequenas lembranças guardada na memória com muito
zelo,muito respeito e, principalmente
com a certeza de que estou fazendo
história, não somente a minha, mas de uma turma que quebrou o aço do possível ou do impossível para hoje
também, realizar junto o sonho do jovem
Francisco Djalma de Oliveira – o
encontrão dos 40 anos de turma – humanistas 1976- Colégio Paroquial – Aurora –
Ceará - Ano 2016.
Luiz
Domingos de Luna – Redator. Email: falcaodouradoarte@hotmail.com