terça-feira, 24 de abril de 2012

O PODER INAPERENTE DA ARTE



De Heráclito contam-se essa estória. Diz-se que, certa vez, estranhos chegaram a sua casa para saber o que fazia. Ao entrarem, viram-no aquecendo-se junto ao forno. Ali permaneceram de pé, impressionados. Encorajando-os a entrar, Heráclito teria pronunciado as seguintes palavras: “mesmo aqui, os deuses também estão presente.”


Quem nunca em um momento de sua vida seja de grande alegria ou até de tristeza não se sentiu impelido por uma experiência de transcendência. Sentido nesse momento que, ele é muito mais do que a própria roupa, os livros que lê e o seu emprego. Esse sentimento é muitas vezes considerado religioso ou místico, mas para outros, esse sentimento é artístico. Independente de ser religioso ou místico, uma coisa é certa, é por meio da arte que tal sentimento é revelado.
Nesse momento, surge uma indagação, o que é um artista? É alguém fora da realidade? O artista não é alguém que está fora da realidade, ao contrário, é ele que nos revela o real. Para desenvolver essa questão pretendo explicitar as relações entre arte e realidade de um ponto de vista ontológico, tendo como intenção demonstrar que, a obra de arte é um modo privilegiado de revelar o cotidiano.
 Mas o que é exatamente uma obra de arte? Refletindo inicialmente sobre o que é essencial numa obra de arte, perceberemos logo de início que o essencial é o seu fazer, criar e produzir. Quando ela é produzida é trazida a existência, supõe ter existido uma finalidade. Entretanto, Essa produção não tem a mesma finalidade de utilidade, porque ela é gratuita em seu aparecer mesmo quando há interesses por trás. Esse fazer não é uma produção qualquer, como um simples instrumento ou uma coisa, ao contrário, transcende essa instrumentalidade que muitas vezes estão presente nas coisas cotidianas.
Nesse sentido, a arte transfigura a realidade para que tenhamos acesso ao verdadeiro. Como podemos observar, a relação entre arte e realidade traz consigo a manifestação da verdade. Na obra de arte não é a utilidade que provoca seu aparecimento, mas é a realização de uma experiência divina, no produto. É essa experiência que possibilita eclodir a manifestação da verdade, iluminando o mundo para o verdadeiro acontecer.
 Pelo exposto, a arte é o colocar-se em obra a verdade, pois, é o verdadeiro que está em obra e não qualquer coisa do verdadeiro.  Entretanto, a verdade está muitas vezes oculta nas experiências cotidianas do dia a dia, isso se deve muitas vezes, ao fato de que não percebemos algo de extraordinário que se realiza no ordinário. Como foi bem lembrado, na citação inicial sobre Heráclito, “mesmo aqui, os deuses também estão presente”.
Para esclarecer melhor, tudo o que foi dito até aqui, usarei como referencia para dar continuidade essa investigação sobre a relação entre arte e realidade um quadro pintado pelo artista holandês Van Gogh.
Ao observar uma tela de Van Gogh, mostrarei como existe uma experiência extraordinária com arte que toca o nosso ser a partir da obra de arte. Esse quadro mencionado mostra um par de sapatos velhos de uma camponesa. É interessante notar que, esses sapatos velhos foram captados de maneira tão extraordinária pelo artista que a utilidade dos sapatos velhos não foi reduzida a sua serventia. Mas possuem um referencial mais amplo, retratando a atmosfera que vive a camponesa, fazendo parte de sua rotina, participando, assim, da sua história. Temos então, a história da camponesa e de seu trabalho.
A grandeza desse quadro revela o mundo em que vive a camponesa, a calma de estarem depositados os sapatos depois de um dia de labor, a vida no campo, suas tristezas e alegrias, sua expectativa da colheita e sua fadiga todas as tardes. Todos os traços da vida da camponesa estão calcados neste par de sapatos.
Essa obra de arte permite observar o mundo através da solidez do produto, fazendo a ligação de tudo que é. Não temos nessa obra apenas um utensílio para proteger os pés da camponesa no seu trabalho, pois, a solidez da obra revela o mundo no qual o sapato, a mulher e os outros homens estão inseridos. Essa solidez, ao agrupar terra e mundo coloca-nos diante da verdade.
Sendo assim, a obra de arte revela a manifestação de tudo que toca nosso ser e essa revelação é a manifestação da verdade. Temos então na arte, o jogo do alegórico e do simbólico. Alegoria significa: revelar outra coisa; enquanto, simbolizar significa: reunir. A arte é alegórica porque revela, pois, até o não revelado faz parte do revelar da arte. Temos na arte, a reunião e o recolhimento, por isso é simbólica. Nesse sentido, podemos dizer que, na arte, qualquer fazer dá sentido, por isso ela é transcendência, ultrapassando a mera utilidade como na pintura de Van Gogh.
Além de tudo isso, a arte exerce um papel subversivo ao trazer para o observador tudo que está esquecido no cotidiano, revelando assim, uma nova realidade destituída da realidade vigente, de modo especial, ao propor uma nova dimensão. Enfim, posso concluir afirmando que, a arte transforma a realidade em todas as suas contradições possibilitando o acesso a verdade. Em resumo, a arte é o cultivo do inaparente.

           CÍCERO LEILTON LEITE BEZERRA
FORMAÇÃO: FILOSOFIA UNISAL
MESTRE EM FILOSOFIA – UFRN -2010
DISSERTAÇÃO – UMA NOVA TECNOLOGIA – NO PENSAMENTO DE HERBET MARCUSE: ARTE E TÉCNICA NA SOCIEDADE UNIDIMENSIONAL.
EDUCANDÁRIO QUE LECIONA: ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO MONSENHOR VICENTE BEZERRA – AURORA CEARÁ CEP: 63360 TEL: (88) 35433903.

15 comentários:

Livro Digital de Luiz Domingos de Luna disse...

O mestre e abalizado professor de filosofia da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra - Cicero Leilton Bezerra, dá uma demonstração consistente sobre a necessidade do Ensino de filosofia no ensino médio, pois no seu artigo: o poder inaperente da arte, retira da coisificação em que vive o homem contemporâneo, as pilastras da elasticidade do ser em projeção, na dimensão material palco do existencialismo efêmero, a grandeza divina da força propulsora dos seres humanos no espaço tempo, pois a abstração ao verdadeiro, a amálgama entre as forças radiotivas do espaço espiritual, que ao tocar o outro, seja pelo belo, pelo verdadeiro, pelo exótico, sempre a pairar na nuvem da imaginação humana a barreira entre o poder criativo, e a invenção para o substrato do processo cultural, assim a arte transcende a realidade e monta uma nova linguagem que incomoda, instiga, corrói o pensar dos seres humanos, pois é um aditivo criacional na solda perfeita e betmuda entre o humano e o divino na expressão ao mundo ao tempo quebrando a barreira do espaço ter, para o espaço ser - Dai sua potencialidade e grandeza - A Arte viva!!!

Anônimo disse...

Gostei muito da correlação entre o quadro do renomado Pintor dos paises baixos Vincent Van Gogh para a contextualização e problematização da arte na absorção do verdadeiro, como um produto abstrato da produção da biografia da alma viva da camponesa, no sapato, o uso de uma vida palmilhada no teor fluitivo do ser o "eu" o objeto de consolidação da arte na vida da camponsesa, pois em partindo de uma pricipio da abstração, se consegue ver no concreto imaginativo ao abstrato do mundo vivivo pela camponesa - Uma pedagogia bem clara e plausivel para a definição de arte pura.
Vicente Luna Alencar
Coordenador Pedagógico
Escola Monsenhor Vicente Bezerra

Anônimo disse...

Mais um brilhante artigo postado no blog da Escola Monsenhor Vicente Bezerra, O poder Inaperente da arte, da lavra do mestre em filosofia e professor da Escola, Cicero Leilton Bezerra, verificando o material postado no Blog da escola, pude observar artigos maravilhosos feitos pelos alunos, ex- alunos, professores e com a participação intensiva de todos no fabrico de nosso fazer pedagógico para o mundo online.
Gostaria de ressaltar o empenho dos administradores do Blog: O Professor João Tavares Calixto Junior, do professor Luiz Domingos de Luna, da professora Francisca Moreira de Jesus que tem sempre incentivado os alunos as belas postagens e outras que com certeza virão. Gostaria de agradeceer a todos os comentaristas e dizer que juntos somos fortes, e coesos, sempre produzimos o melhor de nosso potencial, assim considero a todos que participam deste blog um pedacinho da nossa família Monsenhor Vicente Bezerra.
Edvânia Tavares
Diretora Administrativa

Anônimo disse...

Este Blog é o portal mais intenso e profundo entre o nosso fazer padagógico e a internet, assim creio que devemos dar o máximo sempre para que a nossa qualidade educacional extrapole o muro da escola e mostre ao mundo que é possivel se fazer educação com seriedade e qualidade quando se tem uma equipe preparada e disponivel a fazer e fazer bem feito!!! Parabéns ao professor da Escola e mestre em filosofia , Cicero Leiton Bzerra Leite pelo marravilhoso artigo - O Poder inaperente da arte!!!
Fatima Pereira
Cordenadora Escolar

Anônimo disse...

De uma forma pedagogicamente bem escolhida, com uma didádica fluente, o professor Cicero Leiton consegue captar o espirito - essência da arte, e da arte pura, no brilhante artigo" o poder inaperente da arte", assim creio que, com o despreendimento de cada um, na tenacidade, na garra de todos, inclusive, quero ressaltar que os comentários a este blog, com relação aos artigos aqui postados, sempre acolherão de bom grado todos que quiserem participar, na verdade é uma grande alegria e contentamento poder contar com comentaristas de outras cidades, regiões, estados, pois quanto maior for a força heterogênica dos leitores e comentaristas, com certeza será uma luz a claridade maior para nós todos que fomamamos a familia Monsenhor - on line
Amanda Leite de Oliveira
Professora do Laboratório de informática
Escola Monsenhor Vicente Bezerra

Livro Digital de Luiz Domingos de Luna disse...

Nós administradores do Blog: Dr. João Tavares Calixto Junior e Luiz Domingos de Luna, ficamos por demais felizes e lisonjeados em poder contar com os comentaristas da escola, de Aurora e, principalmente de outras cidades e, ou, estados, pois somente com a diversidade de opiniões e com diversidade em abundância, é que poderemos na escala do tempo, aprimorar, moldar, qualificar e buscar na escada da perfeição a luz para todos nós do mundo online. Assim, seu comentário sempre será bem vindo por nós de qualquer região do pais!!! Participe conosco!!! Faça parte da Familia Monsenor On line!!! seja bem vindo!!!!

Anônimo disse...

Gostei imensamente do artigo o poder inaperente da arte, gostaria muito de ler outros artigos sobre arte, conhecimentos, educação e tudo que se realaciona ao fazer pedagógico. Gostei muito do blog do Monsenhor, pois considero uma livro digital onde. Além da leitura que é de grande importância para nós todos ainda podemos fazer os nossos comentários, e ter também a nossa participação.
Vania Campos
Professora

Anônimo disse...

Sempre que posso leio o blog da Escola Monsenhor e fico feliz por trazer artigos diversificados e oportunos a nossa formação intelectual - gostei muito,muito mesmo do artigo o poder inaperente da arte do professor da Escola - Leiton Leite - que venham outros e mais outros a Escola agradece
Ester Marcia Luna
Professora

Anônimo disse...

Achei o máximo este artigo o poder inaperente da arte- Parabéns!!!
Aurilene da Silva
Professora

Anônimo disse...

Um artigo lindo e bem elaborado!!! Parabéns professor Leilton Leite
Aline Santos
Professora

Anônimo disse...

Um artig deste quando chega no final a gente não resiste em ler novamente. valeu professor Leiton você está de parabéns - Aguardo outros e mais outros
Juliana Pereira
Professora

Livro Digital de Luiz Domingos de Luna disse...

Queira Deus outros artigo de filosofia da lavra deste mestre maior da filosofia na terra do sol nascente a brindar a todos nós da escola Monsenhor Vicente Bezerra!!! Parabéns mestre Valeu , Valeu mesmo!!!

João Tavares Calixto Júnior disse...

Brilhante trabalho deste talentoso aurorense, professor e pesquisador em filosofia, dono de um exímio cabedal de conhecimentos dessa doutrina. Parabéns à Escola por tê-lo como mestre, é sempre um prazeroso exercício receber seus arrimos...

Edson Marques disse...

Belíssimo texto!

Parabéns ao Cícero.

Viva a Arte, em todos os sentidos.

Anônimo disse...

A arte transcende a realidade, creio também que nos meatos do universo a arte divina também transcenda a realidade, o que é a realidade ? senão um dado amostral após passar pelo filtro de nossas emoçoes caindo sempre dentro de outro anexo existencial a verdade e o que é a verdade? bem, alguns filósofos definem a verdade como o belo, mas como o meu está inserido na minha realidade emocional misteriosa. a minha verdade é o meu belo escondido dentro de minha verdadse pura e verdadeira. Quem se habilita a encontrá-la!!!
Luanna Graciele
Professora