TRANSCRIÇÃO: LUIZ DOMINGOS DE LUNA |
Ele fez viagem de 19
quilômetros até o orfanato em um carro de padaria puxado a cavalos. Sacudindo e
dando solavancos por estradas ladeadas de castanheira, passando por pomares e
campos de trigos, a carroça cruzou o perfumado e verde interior inglês.
Para o garoto de 7 anos,
era um sopro de ar fresco comparado com as lúgubres ruas cinzentas e o denso
nevoeiro enfumaçado dos sufocantes pardieiros do sul de Londres de onde tinha
saído. Até, claro, ser recebido pela primeira das duras exigências da vida.
O Menino Charles logo se
tornou mais um triste grupo de 35 jovens reprovados que tiveram o estigma de
cabeça raspada e tingidas de iodo na mais triste quarentena naquele ano.
Vasculhando as películas de celulóide, não é difícil captar o cheiro de sua
infância. Claro que é possível especular sobre os detalhes exatos.
A Carroça da padaria da
escola Hanwell era fechada como a que levou a jovem que acabara de ficar órfã
em tempos Modernos ? Ou era aberta
como aquela na qual a criança abandonada foi mandada para o orfanato em O Garoto ?
E as tristes lembranças de
orfanato de Chaplin tendo a cabeça raspada não eram a fonte de sua eterna
preocupação com aquela maravilhosa cena do circo de pulgas que se inseriu no
retorno do palhaço Calvero em Luzes da
Ribalta ?
As trocas de Calvero entre
um vagabundo picado por pulgas se coçando constrangido e o treinador de insetos
acrobatas orgulhosamente exibindo seu corpo de baile são executados com
brilhantismo cômico.
Mas dizer que Chaplin
controlou seu velho terror do orfanato de se descobrir infestado de pulgas
transformando isto em uma divertida peça exibicionista não serve muito para a
nossa compreensão do funcionamento do processo criativo.
Uma explicação tão crua
depende inteiramente do primado de Freud sobre a psicologia das piadas para
explicar os mecanismos sutis da comédia. Ele pressupõe que a mente cômica
funciona como um caldeirão do Id
automaticamente transformando medos infantis em brincadeiras escolares que são
periodicamente cuspidas das profundezas borbulhantes do inconsciente.
Como , Dickens, que era assombrado por seu encontro ainda menino com a caixa de engraxate e a prisão dos pais por causa de dívidas, Charles Chaplin nunca se esqueceu do trágico mergulho de sua família na pobreza e dos momentos brutais de sua infância.
Ele os relembrou
repetidamente na sua persona imortal do adorável Vagabundo. Não só o personagem
de Charles reviveu e algumas vezes triunfou sobre seus problemas de infância,
como em certos momentos seu vagabundo também pareceu determinado a corrigir a
situação difícil dos pais, embora em clima de pastelão.
A despeito de sua
aparência fraca e ineficaz, o vagabundo – herói cambaleante e desajeitado de Charles
tem uma determinação férrea de salvar jovens suplicantes assolados por pobreza,
desemprego, solidão, internação, doenças físicas incuráveis, prostituição,
bebês roubados e outros terríveis apuros. E quando embriagado, como esteve em
pelo menos doze filmagens diferentes, o Adorável Vagabundo de Chaplin abre seu
caminho trôpego por uma pista de obstáculos repleta de braços letais e quedas
cômicas concebidas para destruir qualquer um menos o alcoólatra mais ágil.
Com milagres coreográficos
inventados por seu criador, os bêbados de Chaplin são sempre vigiados e
afastados do perigo por seus anjos da guarda. Em seu fade- out mais memorável,
o Adorável Vagabundo deixa a cena em direção ao pôr do sol, desolado e só.Os
mais importantes sobre os retratos nostálgicos criados por Chaplin de sua
família e do sofrimento solitário de sua infância nessas cenas é o tom agridoce
de sua visão cômica e o modo marcantemente magnânimo pelo qual ele festeja seus
pais displicentes.
Mas Chaplin não foi apenas
grande: ele foi gigantesco. Em um mundo arruinado pela guerra, ele trouxe o som
do riso e o alívio para tantas pessoas que necessitavam de alento durante
períodos tão dilacerante como a Primeira Guerra Mundial e a grande Depressão.
Ao apresentar uma investigação sobre a trajetória de Chaplin e as fontes de sua
genialidade, Stephen Weissman explica , de maneira detalhada e fascinante, como
a infância trágica formou a personalidade e a arte daquele que é considerado um
gênio atemporal.
Referência: Sobre o autor: STEPHEN WEISSMAN, Psiquiatra de
formação, pesquisou a vida de Chaplin durante anos e estudou todos os
documentos que o levaram a conhecer profundamente o grande mestre da Sétima
Arte. Autor de diversos livros de psiquiatria é professor da Washington School
of Psychiatry e mora em Washington, D.C
Matéria Transcrita da
coluna: Momento do Livro – Conteúdo publicitário – Chaplin Uma vida O eterno “
Adorável Vagabundo”... Ciência & Vida filosofia Ano VI. Nº 66. Janeiro
2012. Esta revista é uma publicação da Araguaia indústria Gráfica e Editora
LTDA. Produzida sob encomenda para a editora Escala.
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