sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Centenário de Falecimento de Antônio Leite Teixeira Netto (Coronel Totonho do Monte Alegre)


Por: João Tavares Calixto Júnior.



        Neste ano de 2013 anota-se a passagem do centenário de morte de uma das figuras mais atuantes da historiografia aurorense, e por que não dizer, do cenário coronelístico nordestino. Antônio Leite Teixeira Netto, o Coronel Totonho Leite, ou ainda, Coronel Totonho do Monte Alegre, como era mais lembrado. Tornou-se amplamente, por enroupar-se com as características inerentes ao coronel de baraço e cutelo, famigerado. Entendido por besta, as vezes bestial, serviu de referência por muito tempo ao mundo pretensioso do coronelismo, onde sua figura era temida ou venerada e sua palavra era lei.
     Assumiu pela primeira vez o posto de Subdelegado de Polícia do pequeno Distrito da Venda da Vila das Lavras, à época, a principal autoridade policial do lugarejo, aos 12 de junho de 1883, tendo sido exonerado aos 5 de novembro de 1884, sendo substituído por Ernesto Teixeira Rabello.  
     Foi nomeado pelo Governador Benjamim Liberto Barroso ao cargo de Intendente Municipal da Vila d'Aurora após a exoneração de João Francisco Leite, ocorrida em 1º de março de 1891. Permaneceu por dois anos a frente do Conselho de Intendência Municipal da Vila d'Aurora, entidade ao qual participou como membro fundador, juntamente a João Francisco Leite, Antônio Francisco Carneiro Monteiro, Firmino Bezerra de Medeiros e José Antônio de Carvalho, em 1890, co-elaborando a primeira Lei Orgânica do Município no mesmo ano de 1890.
     Toma posse novamente em 11 de junho de 1907 ao cargo de Intendente, nomeado pelo Presidente do Estado no dia 5 do mesmo mês e ano. Por ter apeado do poder o seu sobrinho e também coletor em Aurora, Antônio Leite de Oliveira, discorreram sobre ele, como resultado de vingança e perseguições políticas, um dos mais tétricos causos desta página penumbrosa da história de Aurora e do Nordeste brasileiro, que à época, declinava-se ao amargo dissabor das questões resolvidas ao relampejante pestanejar das lâminas do punhal e da estampida e fumacenta alçada do bacamarte. Sobre o desfecho da deposição, acrescentamos o que disserta Joaryvar Macêdo em Império do Bacamarte (Fortaleza, 1990, p. 96):
“Abrindo campanha contra o sobrinho, o chefe de Aurora passou a convocar grupos familiares, aliás, de modo geral, muito entrelaçados ali, no sentido de aderirem a ele, em seu desiderato. Os que se recusaram a compartilhar do conluio, pela circunstância de serem amigos, correligionários ou ligados por laços de parentesco a Antônio Leite de Oliveira, acabariam vítimas de acerbas perseguições. Entre estas, estavam os Paulinos, que foram espancados sob o comando de um elemento do coronel Totonho, de nome José Gonçalves Pescoço. Posteriormente, revidariam a agressão. Por isso, houve um ataque ao sítio Pavão, de propriedade do coronel Cândido Ribeiro Campos, vulgo Cândido do Pavão, tio dos sobreditos Paulinos, aos quais o cacique aurorense pretendia capturar. O coronel Domingos Furtado veio, então, em auxílio do coronel Cândido, que transferiu os sobrinhos para o Taveira, como já se sabe, nos limites de Aurora com Milagres. Lá, o chefe local, o mencionado coronel Domingos Furtado, os garantiria”.
     Estando protegidos no Taveira os Paulinos, enviou o coronel Totonho ao Governador do Ceará, Nogueira Acióli, pedido de força, que fosse suficiente para prendê-los no lugar. Da mesma forma, o chefe de Milagres coronel Domingos Furtado, não mediu esforços para providenciar-lhes a defesa. Outro, este, motivo cabal para desenvolver-se o famoso cerco ao sítio, conhecido por fogo do Taveira. Neste ambiente político tumultuado de Aurora, à época, foram vitimados, à semelhança dos Paulinos, os Macêdos do Tipi. Ainda sem forte inserção na virulenta cloaca da politicalha do município, a família mentoreada por Marica Macêdo (nesta época já casada em segundas núpcias com Antônio Abel de Araújo), sofreu também represália por parte do citado coronel Antônio Leite Teixeira Neto. Eram muito estreitos, entretanto, os laços de familiaridade entre os citados. Referimo-nos que a esposa do coronel Totonho (Ana Isabel de Macêdo ou Naninha) era sobrinha do primeiro esposo de Marica Macêdo (Cazuzinha), e deste casal, viu-se uma filha (Joana da Soledade Landim), matrimoniar-se com Vicente Leite de Macêdo, filho do predito coronel Totonho (CALIXTO JÚNIOR, J. T. Venda Grande d'Aurora. Fortaleza, 2012, p. 113-115).
     Quando o coronel Totonho ameaçou retirar do poder Antônio Leite de Oliveira, por intermédio do filho Vicente Macêdo, cunhado dos filhos de Maricav Macedo, conseguiu a adesão deste, que, entretanto, recuaram a pedido dela. Com efeito, ela os obrigou a não tomarem parte na questão, porquanto o supracitado Antônio Leite de Oliveira fora dos maiores amigos do seu primeiro marido e, ademais, José Francisco de Sales Landim, irmão dela, era casado com Joana Leite de Oliveira, irmã do mesmo Antônio Leite de Oliveira. Foi desta forma que Marica Macêdo com sua gente passou a figurar no rol dos desafetos do coronel Totonho do Monte Alegre.
     Não se permite, entretanto, discorrer sobre este personagem marcante do coronelismo do Nordeste, sem que sejam citados dois dos mais contundentes episódios de Aurora, escritos com sangue: O ataque ao Sítio Taveira, de 16 para 17 de dezembro de 1908, e o massacre da Vila d'Aurora em 23 de dezembro de 1908, fatos estes dos mais bárbaros e representativos da historiografia do coronelismo regional desse período inicial do século passado. Sobre o primeiro evento, deu-se por inimizade aos membros da família Santos que atuavam desregradamente na área do Coxá, local de residência de muitos familiares e correligionários do Coronel do Monte Alegre. Por coincidência, escondia-se Marica Macedo com sua família no sítio Taveira, quando de viagem ao Cariri, sob ameaça de ataque ao seu sítio Tipi, pelo mesmo Coronel Totonho. No ataque, cai tombado Cazuzinha, que a época vivia com 17 anos. Ao chegar ao destino, reduto dos coronéis entrelaçados em forte parentesco com Marica, encontraram um clima de revolta, totalmente inconveniente ao Coronel Totonho e demais aurorenses envolvidos no massacre. A chegada sofrida da família constituiu em motivação fortíssima para a vingança violenta que ocorreria em 1908, no dia 23 de dezembro, onde cerca de 600 cangaceiros, comandados pelo Coronel José Inácio do Barro, fizeram sucumbir a pequena Vila d'Aurora após seis horas de intenso tiroteio. Casas foram incendiadas, assim como o comércio e fazendas, chegando a se ver estupros em moças de família, guardando-se o pior tratamento para as pessoas ligadas ao coronel Totonho Leite. 
     Os aurorenses que permaneceram na vila sofreram inomináveis violências por parte dos vândalos. O coronel Totonho fugiu para o Crato, donde foi ter ao oeste paraibano. Ali, refugiou-se no antigo São João do Rio do Peixe, à sombra do padre Joaquim Cirilo de Sá, mais conhecido por padre Sá, vigário da localidade e político de prestígio no Estado da Paraíba.
     Não demorou-se muito o Coronel Totonho no vizinho Estado da Paraíba. Em notícia do periódico caririense O Rebate (p. 2), de 25 de julho de 1909, apontam-se os nomes dos cidadãos Antônio Leite Teixeira Netto, Joaquim Vasques e Francisco Róseo, todos residentes na Vila de Aurora, como sendo os celerados convidados pelo Cel. Antõnio Luiz, do Crato, para tomarem a ombros a incumbência de acabamento e de destruição, fornecendo-lhes instruções, conforme o pensamento geral, para arrancarem acintosamente os marcos da demarcação do Coxá, requerida pelo Padre Cícero. Tendo conhecimento do episódio a Justiça local, mandou-se às pressas postarem-se quatrocentos homens aos pés dos aludidos marcos, guardando-as dos malfeitores, que pouco resistiram, sendo afinal batidos por aquela força, fugindo todos em debandada para o Crato, em cujas ruas alojaram-se. Não caíram mesmo assim os marcos, continuando de pé.
     Aos 13 de julho de 1910, em depoimento realizado ao Juiz Alfredo de Oliveira, em Lavras, afirma Joaquim Vasques Landim, o famigerado Quinco Vasques (o bravo caririense), terem sido alguns aurorenses, os mandantes da tentativa de deposição ao coronel Gustavo Augusto Lima, de Lavras, um dos mais importantes régulos do período coronelístico nordestino, filho da matrona Fideralina Augusto Lima. Ocorreu este cerco aos 6 de abril de 1910, com a invasão de cerca de 300 cangaceiros a fim de atear-lhe do poder lavrense. Do auto de perguntas, informa o réu terem sido Manoel Gonçalves Ferreira, Antônio Leite Teixeira Neto e Davi Saburá, os aurorenses mandantes do assalto ao coronel Gustavo Augusto de Lavras: “Antônio Leite concorreu com um conto de réis em dinheiro que lhe foi entregue por Joaquim Torquato, Manoel Gonçalves Ferreira concorreu com duas cargas de balas de rifles, entregues pelo mesmo Joaquim Torquato e Davi Saburá concorreu com um conto de réis em dinheiro, também entregue por Joaquim Torquato”. Indagado, ainda, Quinco Vasques, sobre a interferência de outros suspeitos no ataque ao coronel Gustavo, acrescenta nos laudos do interrogatório, o que segue: “(...) além desses mandantes o influenciaram mais para este ataque, Joaquim Torquato, José Torquato, Simplício Torquato, os filhos de Antônio Leite, Isaías e João, assim como quase todos os deportados de Aurora (...)”. Sobre o objetivo do ataque, informou: “era depor o coronel Gustavo e tomarem depois conta da cidade, a fim de melhor ser facilitada a retomada de Aurora, da qual seria novamente chefe, Antônio Leite (...)”.
     Veio a falecer em 1913, no dia 10 de dezembro, na Vila d'Aurora, vítima de complicações cardíacas e já em idade avançada. Operando de forma ativa no truculento litígio do poder em Aurora, foi ainda, além de Intendente Municipal e Subdelegado de Polícia, Vereador e Juiz Substituto. 
     De seu Inventário, datado de 6 de agosto de 1914, observam-se, além da lista de bens deixados aos herdeiros, os nomes dos mesmos, concebidos de seu único matrimônio com Ana Izabel de Macêdo:
1 – Manoel Antônio de Macêdo (falecido);
2 – Maria Leite de Macêdo (falecida);
3 – Josefa Leite de Macêdo (falecida);
4 – Joaquim Leite de Macêdo (casado);
5 – Vicente Leite de Macêdo (casado), residente no sítio Bordão de Velho;
6 – Antônia Leite de Macêdo, casada com João Leite de Figueiredo, moradores no sítio Barro Vermelho;
7 – Izaías Leite de Macêdo;
8 – Izabel Leite de Macêdo, casada com Alípio Leite Teixeira, morador no sítio Bordão de Velho;
9 – Raimundo Leite de Macêdo, solteiro, 24 anos de idade;
10 – Maria Izabel de Macêdo, solteira, 23 anos;
11 – Roza Leite de Macêdo, solteira, 22 anos;
12 – Gustavo Leite de Macêdo, solteiro, 20 anos.
(Autos de Inventário de Antônio Leite Teixeira Netto, 1914, proc.44, p. 5-6). 
     A título rápido de curiosidade, acerca desde último filho, casou-se com Maria das Dores Gonçalves, com quem teve nove filhos, e dentre estes, Francisco Leite de Macedo (Olavo Leite), ex-Prefeito Municipal de Lavras da Mangabeira, nascido em Aurora aos 28 de outubro de 1923, pai, do também ex-Prefeito de Lavras, Carlos de Olavo.
     De sua prole numerosa, destacam-se outros rebentos em vários segmentos, inclusive, Eclesiástico. Como exemplo, Deoclécio Leite de Macedo (Dom Hilário), Monge do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, Professor e Escritor, ordenado no Mosteiro de Baurox na Alemanha aos 22 de dezembro de 1937, nascido no sítio Bordão de Velho aos 16 de outubro de 1911, filho de Vicente Leite de Macedo e Joanna da Soledade Landim.



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