Por José Cícero*
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Em pleno período da 'semana santa' onde segundo a
tradição judaico-cristã começa o sofrimento e martírio de Cristo. Em
AURORA um grupo de homens simples há anos seguem à risca a penitência da
dor e sofrimento, literalmente na própria carne.
Conforme eles, com o objetivo de se redimirem perante os pecados do mundo e, ainda aplacar as agruras de Jesus diante do seu Calvário.
Mesmo discretos nas suas estranhas ritualísticas
religiosas, eles são bastantes conhecidos. Fazendo parte por isso mesmo do
próprio imaginário popular das pessoas. São conhecidos como seres
lendários e quase mitológicos. Mas não pela identidade individual dos seus membros,
porém pela existência das suas manifestações, que em Aurora
remontam(segundo dizem) a segunda metade do século XIX que ganhara força
com o apoio do conhecido padre Ibiapina. Tempos depois, como o decisivo
apoio do próprio padre Cícero e, em seguida Frei Damião.
São portanto, conhecidos simplesmente pela velha
alcunha de "Penitentes". Homens sertanejos que em pleno século
XXI ainda conseguem encarnar no corpo e na alma uma crença
inusitada e realmente estranha para os padrões da chamada pós-modernidade.
Detentores de uma fé inabalável e incondicional ante o sagrado, por isso mesmo
revestida de muito entrega e doação espiritual. Prática que, segundo relatos
históricos, é originária da idade média nos mosteiros do continente
Europeu.
Noutros tempos, por sinal a região do Cariri era pródiga nestes expedientes, quando era considerada um dos municípios com o maior número de grupos em plena atividades, com quase trinta no total. Hoje no entanto, a duras penas, só restam dois. Sendo que apenas um encontra-se em atividade, ou seja, se reunindo com certa regularidade. Todavia, correndo sério risco de acabar para sempre, visto que, conforme o próprio Decurião - chefe do grupo, o Sr. Geraldo Caboclo do sítio Salgadinho "os jovens de hoje não se interessam mais pela irmandade nem pelos 'Alertai' que praticamos".
No passado, afirmou ele, "a coisa era diferente, a gente tinha era que escolher, pelos procedimentos, quem devia entrar no grupo". "Agora a juventude só quer mesmo saber é de festa, parece que tem até vergonha de rezar e de se doar para Deus", completou.
Atualmente, a maioria dos que ainda integram
o grupo de Penintes de Aurora beiram a média de idade dos setenta anos. Muitos
deles pela idade e a saúde complemetida nao têm mais como acompanhar o trabalho
do grupo.
Pertencentes a chamada Ordem da Santa Cruz de Aurora, os penitentes se dizem ainda estarem psicologicamnete ligados a chamada igreja rural laica, cujo ritual no geral difere e muito, da prática realizada pela igreja católica oficial. Mesmo que todos eles asssegurem ser "Católicos apostólicos romanos" e, que também reafirmam "devoção e obediência ao papa, ao Bispo e ao padre".
Trata-se, portanto, de uma antiga tradição religiosa que por muito tempo marcou profundamente à história e a vida do povo sertanejo e nordestino. E que infelizmente agora, corre sério risco de desaparecer para sempre. Uma manifestação hermética e popular que compõem o cenário da nossa cultura regional.
Terço da Semana Santa no bairro Araçá:
Na noite da última segunda-feira(25) o grupo dos
Penitentes aurorenses participou da "reza", realizando a
celebração(alertai) ou "terço da semana santa" que todos os
anos acontecem na residência do casal de aposentados o Sr. José Serafim e Dona
Maria Gomes residentes no bairro Araçá.
Ambos se cosideram admiradores das 'rezas e dos benditos' dos penitentes desde que eram meninos e moravam na zona rural. Quando os trabalhos dos penitentes eram visto como muito respeito e devoção sincera.
Tendo sido iniciado, como é comum, após às 23 horas o terço foi concluido depois de meia-noite.
Marcado por uma série de cântigos e benditos
antigos numa linguagem quase incompreensível, os penitentes ainda chama,
a atenção de muita gente. Algumas pessoas se dizem ter até medo dos mesmos.
Na noite de segunda, a parte mais forte da
celebração, ficou por conta do ritual de autoflagelação penitencial que teve início a partir da meia noite. Como
preparativos, todas as portas e janelas da residência foram fechadas e vedadas
com panos e toalhas. Em seguida, quatro dos participantes se ofereceram para o
sacrifício.
As manchas do sangue espargidas pelo ato, chamdas de "chagas de Cristo" deverão permanecer nas paredes da sala por no mínimo, sete dias, segundoo afirmou o casal o próprio casal.
Foi por assim dizer, a mais pura expressão da fé
levada as suas últimas consequências. Quem sabe, a força
incomensurável e quase incompreensível da tradição religiosa leiga em favor da
eterna luta do sagrado contra o profano. Uma crença religiosa que
simplesmente não podemos explicar por meio de palavras.
Uma cena forte, mas que a todos sugere refletir um pouco mais acerca do próprio gênero humano em relação à divindade e o imponderável da vida.
Por fim, como se diz, simplesmente, é preciso ver
para acreditar...
(*) Secretário de Cultura do Município de Aurora – Ceará.
Blog da Escola Monsenhor Vicente Bezerra, Araçá,
Aurora – Ceará. CEP: 63.360.000. TEL (88)35433903 Email monsenhorbezerra@yahoo.com.br
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