quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

THOMAZ ALENCAR BATISTA: 90 ANOS, UMA DÁDIVA DE DEUS.

Thomaz Alencar Batista: 90 anos, uma dádiva de Deus*

"A vida é a infância da nossa imortalidade", dizia Goethe...

E o que diríamos nós, simples mortais? Diante deste momento tão significativo em que nos reunimos para comemorar nesta noite, a passagem dos 90 anos de vida do Sr. Thomaz Alencar Batista, ou mais simplesmente “Seu Tomás?” - Um homem por quem a própria vida teve que passar necessariamente pelo árduo ofício do trabalho, na busca incessante pela sobrevivência.

“Seu Tomás”, portanto, é mais que um simples vencedor. Um homem do seu tempo que em nenhum momento perdeu as esperanças de que um dia o futuro pudesse ser melhor. “Seu Tomás” por fim, é uma dessas figuras humanas que consegue se sobrepor às demais, não pelo orgulho (puro e simples) de ter alcançado em plena lucidez o seu nonagésimo aniversário de sua idade física.

Mas, sobretudo pelo exemplo que nos dá, do afeto e do amor dedicado, tanto à família quanto ao trabalho e ao próximo. Seus 90 anos, portanto, representam o resultado de uma longa história de vida, toda ela marcada pela força da esperança com a convicção de ter sempre combatido o “bom-combate”. Movido sempre por um esforço hercúleo, o homem Tomás foi quase um predestinado em cujas mãos carrega até hoje a convicção de que o trabalho é sempre o melhor caminho. Um exemplo para os seus filhos; quase como um manual de ‘vida longa’ a ser também imitado e admirado por todos quantos o conhecem e privam da sua amizade.

Nascido em 30 de março de 1917 no sítio Batedor, na época município de Milagres e hoje pertencente ao Barro, Thomaz Alencar Batista teve como genitores o Sr. João Batista de Araújo e a Srª Antonia Alencar de Araújo. Cedo, aos seis anos ficara órfão de pai, tendo em tenra idade, que assumir a função de chefe de família passando a ajudar sua mãe e seus irmãos mais novos nas tarefas domésticas do dia-a-dia e no roçado. Foram dias longos e difíceis. Porém o jovem Thomaz soubera suportar e resistir como gente grande...

Aos oitos anos, Thomaz e sua família mudaram-se para o sítio Cuncas no vizinho município de Barro quando dali em diante passou a trabalhar a terra tirando do chão o necessário sustento da sua família. Aos 15 entrou para a vida de “tropeiro viajante”, uma espécie de mascate sertanejo comercializando de tudo pelo Cariri afora. Na época, era ele naquela ribeira que trazia e que levava pelo sertão adentro as novidades, tanto em matéria de mercadoria quanto em forma de “notícias”. A vida não parecia fácil para o jovem Thomaz, mas ele tinha já naqueles anos, a ousadia e a fé, que mais tarde o marcariam para sempre. Aos 27 anos decidiu casa-se com a Srª Antonia Benício de Luna (sua primeira esposa) de cujo enlace nasceu sua única filha – Maria da Glória, atualmente residente na capital cearense (mãe de 4 filhos e avó de 3 netos).

No início de 1958, sua esposa Antonia adoece e no leito de morte, faz um pedido a sua melhor amiga - Expedita de Luna Rangel. Pede-a que case com Thomaz. Cerca de dois meses depois do seu desencarne, o compromisso foi sacramentado. Thomas contrai segundas núpcias com Expedida de Luna (sua atual esposa) cujo matrimônio permanece até os dias atuais. Em seguida, o novo casal decide mudar-se para o Tipi de Aurora, região na qual residiram por vários anos sob a labuta da agricultura e nas horas de folga da compra e venda de mercadorias. Naqueles anos difíceis, Tomás era por assim dizer, “pau pra toda obra”: agricultor, caixeiro viajante, vendeiro (e pasmem) até parteiro se aventurou a ser, na ânsia de poder ajudar quem assim necessitasse.

Em 1960 nasce o seu 1º filho (fruto do seu segundo casamento) – João Bosco de Luna Alencar, casado com a Srª Liduína Cavalcante que lhe deram como netos: Thiago, Thaynara e Thalyta. Em 63 nasce o seu 2º rebento – Vicente de Luna Alencar, solteiro, formado em história, atualmente diretor deste importante educandário. Em 65 nasce o seu filho Roberto de Luna Alencar, tendo este falecido aos 15 anos de idade. Passados os transtornos dessa trágica perda; eis que em 1969 veio ao mundo: Francisco de Luna Alencar (Orlando), casado com Rosângela Santos, residente aqui mesmo em Aurora.

Como um homem essencialmente dedicado aos afazeres do cotidiano, Thomaz nunca perdeu de vista a importância do estudo como instrumento de crescimento e preparação. E assim, seus filhos puderam enfrentar, todas as ‘intempéries’ da vida na construção do seu próprio destino. De modo que, mesmo residindo na zona rural sempre incentivou como pôde a sua prole a vir para a cidade, a fim de que pudessem galgar os caminhos do saber e do conhecimento. Tempos depois, Thomaz passou a exercer o ofício de "juiz de paz" da vila Tipi. Passando em seguida, a função de vigilante na agência local do Banco do Estado do Ceará (BEC) posição em que doravante se aposentou.

Antes de qualquer outra coisa, Tomás foi um homem da ação que ousou o tempo todo sonhar por seus filhos, como alguém que profetizasse grandes bonanças nos horizontes do amanhã.

Há quem diga, inclusive, que “Seu Tomáz” tem uma saúde de ferro, uma memória de elefante e uma sabedoria acumulada de valor inigualável. Digamos que em parte isso é verdade. Mas não nos esqueçamos que em 1995 o decano dos Alencar, teve que ser submetido a uma cirurgia na qual sofrera bastante. Mas ele, uma vez mais, conseguiu superar obstáculos... Todavia, em 1997 vitimado por uma forte pneumonia o velho Tomáz sofreu mais um revés na sua resistência física, ao ponto de ser até mesmo desenganado por alguns médicos que chegaram por sinal, a numerar os dias de vida que lhe restavam... Contudo, dotado de uma saúde literalmente de leão, “Seu Tomáz” deu a volta por cima: E hoje está aqui (para ele próprio) contar-nos a sua história. Uma história que, (diga-se de passagem), de tão afirmativa, precisa não apenas ser contada, mas principalmente ser comemorada; por ser ela, a própria história e o retrato da superação.

Hoje, portanto, do alto desses invejáveis 90 anos: descendem da árvore genealógica de “Seu Tomáz”, além de 4 filhos, 7 netos e 4 bisnetos. Como também, um sem-número de amigos e mais uma imensa legião de simpatizantes da sua longevidade, gloriosa, divina e proverbial...

Por tudo que ele representa, podemos muito bem afirmar que esta noite é mais que um simples momento festivo, convencional... Muito mais que isso, trata-se de uma notória e verdadeira consagração. Um instante eterno, daqueles onde os deuses da longevidade descem a terra para brindar tão jubiloso acontecimento. Por isso, haveremos todos de lembrá-lo por muito tempo. Afinal, não é todo dia que ficarmos frente a frente com um ser humano especial, que muito mais que o exemplo, conseguir superar-se a si mesmo, para neste dia dizer-nos de alto e bom som – que a velhice não existe e que a juventude é, de fato, um mero estado de espírito. Foi assim, com a disposição de lutar ante a aquiescência de Deus, que ele conseguiu superar a própria cronologia do tempo e da idade.

Então: Vida longa a “Seu Tomás” nestes seus 90 anos de existência...

Parabéns, grande mestre!!

Prof. José Cícero
Escritor, pesquisador e poeta.
Aurora - Ce.

(*) Crônica apresentada na festa de aniversário dos 90 anos de "Seu Tomás" na noite do dia 30 de março no Col. Monsenhor de Aurora-CE.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ESMERINDO CABRINHA DA SILVA - O HUMANIZADOR MUSICAL DE AURORA, CEARÁ -

MAESTRO ESMERINDO CABRINHA DA SILVA. FONTE: AC2B


Por Luiz Domingos de Luna.
 
Respirando a atmosfera artística e cultural de Cajazeiras/PB, pelas ruas, pelos espaços concretos e abstratos, assim, ao chamado de qualquer instrumento musical, ao acorde do som, ao movimento dos dedos, ao ritmo da composição, a harmonia das orquestras; estava lá, sempre vigilante, sem pressa, doado por inteiro, imergido nas ondas sonoras.Navegando na simplicidade, na humildade, na entrega total, na missão intrínseca do seu ser,servir a sociedade na educação musical, num processo contínuo, burilando no mundo mágico de sua criação as letras sonoras que iriam libertar o homem das masmorras sociais,pois toda pequenez da matéria, era pulverizada por um conjunto harmônico de sons vibratórios, dando uma dimensão elástica do ser, na passagem temporal da existência; a cada nota, expelida pelo fito musical, um sonho, um desejo, uma vontade determinada de salvar a juventude das correntes de uma modernidade balofa. Gostava sempre de, em cada fonte, um ponto de um novo nascimento, não um nascimento ditado, sistematizado, na ordem, nas regras de conduta, mas no auto-nascimento, pois a cada músico, a possibilidade plena do encontro entre o ‘Eu íntimo’ e o som projetado. É incrível como cada discípulo de Esmerindo Cabrinha conseguia esculpir na alma a busca pela perfeição, uma perfeição sem cobranças, sem normas, sem lei, sem correção, feita apenas com o olhar silencioso, o olhar de quem acredita, de quem confia, era como se o olhar falasse ‘não se preocupe, eu estou do seu lado, você consegue, você supera, você chega lá’. Este débito musical dos alunos iniciantes sempre formava o paredão da ética, do compromisso, da vontade de acertar, da determinação de mostrar para si e para o mundo que aquele mestre não estava ali em vão, ou por um momento existencial efêmero, mas sim, para abrir horizontes para jovens que só tiveram uma única oportunidade na vida, a oportunidade de aprenderem com o Maestro Esmerindo Cabrinha da Silva, isto era tudo que os alunos possuíam. Eu mesmo, quando da chegada do maestro em Aurora, sempre atentamente, assistia às suas aulas, a sua didática me contagiava, pois não era apenas um professor de música, era muito mais, um humanizador, um construtor da cidadania, da ética, do respeito ao conjunto, e por extensão a sociedade, por que não dizer a humanidade como um todo. Os alunos de Esmerindo viam no maestro um instrumento afinado que tentava reconstruir o espaço único da alma humana, numa luta contínua contra as intempéries negativistas que sujam a história da humanidade. De minha convivência como meu mestre musical, edificador da natureza humana em linhas suaves, decodificadas ao brilho da harmonia, da melodia sonora, ficava sempre admirado com a sua despreocupação com a grandeza do mundo material, pois para seu Esmerindo, a riqueza do ser humano estava em projetar para o mundo um benfeitor musical e social, um humanizador,conseguir isto, parecia algo utópico, mas no carrossel do vendaval da existência, a marca de Esmerindo Cabrinha da Silva ficou timbrada para sempre, esculpida no interior de cada um dos seus alunos que hoje pavimentam nos mais diversos rincões deste país o celeiro de grandes músicos que envaidecem o seu Estado natal, Paraíba, e a sua amada e nunca esquecida, Aurora no Ceará.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

AMARÍLIO GONÇALVES TAVARES - AURORA, A FILHA DE SEU FILHO.

FONTE: BLOG DE  AURORA.


Aurora, a filha de seu filho

Por Luiz Domingos de Luna.

Todo solo sem história é palco aberto para invencionice. É horizonte com limites. É acompanhar o movimento de rotação na incerteza do tempo espaço. É deixar a geografia, a cultura, a permanência do homem na impermanência do ser. É desintegrar a matéria no buraco negro da existência. É reconhecer o caos na ordem existencial dos fatos. É anular o eixo de equilíbrio da vida no vazio da imensidão do infinito.
 
Às margens do Rio Salgado, no sertão do Cariri, na cidade de Aurora(CE), enquanto a passagem da vida era tungada inexoravelmente pelo estrago do poder temporal, ali, bem ali, vigilante, em obediência a cada segundo que passava, a cada molécula de oxigênio respirado, ao som da música do Salgado, à beira deste maestro natural, estava ele, pacientemente, determinado, altivo, sendo o pioneiro, o desbravador, o descortinador, percorrendo em cada malha de uma história, confusa, obscura, não clara, passado de um momento entre o coronelismo, religião, cangaceirismo, passado que amedronta, "monstro da escuridão e rutilância", sempre ele, seja no remanso, seja na violência das águas, sempre com uma tocha acesa para escrever uma história perdida, esquecida, praticamente sem pesquisas, material escasso, tudo muito rudimentar, escuro, um quintal com muro, um grito puro, sozinho na penitência dos monges, na determinação dos grandes sábios, estava ele, sempre ele, imergido na sua simplicidade, na coragem, na bravura, na luta de construir a história de uma cidade, os fragmentos perdidos em arquivo perdidos, numa oralidade perdida.
 
Tudo perdido, mas ele não, ele é a fonte, ele é forte, é uma fortaleza espiritual talhada na pedra, não qualquer pedra mas, sim, a pedra de aço, que mesmo detonada em milhões de pedaços leva o DNA da história, da cultura, de um povo, leva a marca do registro de nascimento da minha querida cidade Aurora. Aurora que é sinônimo do intelectualismo brilhante da sua mente criadora, revolucionária, pioneira, a filha do seu filho, é assim que consigo definir o meu grande amigo escritor Amarílio Gonçalves Tavares.
 
Hoje, é praticamente impossível escrever sobre Aurora sem pesquisar este grande vulto da historiografia da cidade sol nascente. Amarílio nunca esteve sozinho, pois nós que recebemos esta missão árdua de escrever, sempre somos e seremos os seus discípulos, basta ver que no nascimento da Revista Aurora, com a tenacidade do escritor, do continuador desta tarefa árdua, tem no abnegado editor e redator José Cícero da Silva a certeza de que sua semente caiu em solo fértil. Pois o nome de Amarilio está lá, sempre vai estar presente, vivo respirando, dando oxigênio, luz e impulso à força elástica do ser.
 
É a base. É a rocha. É o ponto inicial. É o referencial de uma história que pulsa viva e povoa a imaginação da terra do Menino Deus, como escrever Aurora sem referenciar o menestrel, a águia de Aurora, Amarílio Gonçalves Tavares; um ponto inicial onde brota vários pontos, linhas retas, quadrados, triângulos, losângulos, círculos, nasce o arquiteto, pode fugir das mãos o homem, pode fugir das mãos a matéria, pode fugir tudo, mas com certeza nunca fugirá a história de uma cidade criada por este homem, este vulto que no carrossel do tempo soube costurar tecer, untar, betumar, dar sentido, dar lógica, dar prumo, dar materialidade, dar vez, dar voz histórica à minha querida cidade Aurora.
 
 Ser discípulo de Amarilio Gonçalves Tavares, assim como sou, é pegar a sua guia e partir para o mundo, nas veredas, nos caminhos esgrimistas, em terra árida, nos grotões, atravessar o deserto na busca de um oásis que talvez nem exista. É esculpir na alma a marca de um registro eterno? Passageiro? Não sei, pois a vida é muito efêmera para compreender ou decifrar este mistério da (tenacidade pela tenacidade e da garra pela garra). Amarílio é a certeza da voz, ou do início, da bravura ao pioneirismo. Falar de Aurora, obra de sua criação intelectual e história descritiva, é saber que tudo tem um fundamento, um motor primeiro, um agente causador.
 
Por isso na nuvem do temporal da existência, da fumaça cósmica, ao cotidiano de todos nós, aurorenses, estará sempre presente, na intimidade do ser dois nomes que se confundem para sempre, a filha do seu filho, Amarílio Gonçalves Tavares, e Aurora, Estado do Ceará.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

REFORMA AGRÁRIA E O NOVO RURAL BRASILEIRO.


FOTO: DR. LUIZ CARLOS DE AQUINO PEREIRA(1)

Luiz Carlos de Aquino Pereira (1)

A aquisição de imóveis rurais para fins de reforma agrária objetiva, em última instância, o desenvolvimento socioeconômico dos agricultores familiares, de forma sustentável, com reais melhorias na renda e na qualidade de vida.

Para que se atinjam tão nobres objetivos um dos critérios comumente observados é a Potencialidade da Propriedade Rural a ser adquirida,mediante criterioso estudo da Capacidade de Uso de suas terras. Para tal classificação concorre uma avaliação sistemática do meio físico e da identificação das classes de solos existentes, correlacionando-as com a sua posição no relevo, vegetação e paisagens, recursos hídricos etc.

Essas análises técnicas, desenvolvidas tradicionalmente pelas instituições executoras da reforma agrária, seja no âmbito federal ou estadual, têm se direcionado quase que exclusivamente à destinação para a exploração agropecuária do imóvel rural, agora sob a forma de um Projeto de Assentamento.

Todavia, com as transformações sociais e econômicas operadas no campo, tais como a abertura comercial dos anos noventa, especialmente no período pós-real, que expôs o setor agrícola à competição com produtos importados, altamente subsidiados (Graziano e Del Grossi, 1999); o acentuado processo de urbanização do campo, dentre outras, não se pode deixar de atentar, também com relação aos assentamentos de reforma agrária, para a possibilidade de expansão das Atividades Rurais Não-Agrícolas, a exemplo das pequenas e médias agroindústrias, do artesanato, agroturismo, extrativismo etc.

Nesse contexto do Novo Rural Brasileiro, imagino que os formuladores da Política Agrária precisam estar atentos para tão marcantes transformações, de sorte a reforçar a produção de Normativos Institucionais cada vez mais claros e concisos quanto a essas novas formas de organização dos assentamentos; inclusive para dar maior respaldo aos técnicos (servidores públicos) que participam diretamente da aquisição dos imóveis para a reforma agrária.

Digo isso para evitar que os órgãos de Estado que fiscalizam o cumprimento da lei, “... a defesa do patrimônio público e o zelo pelo efetivo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição” não possam fazer interpretações equivocadas, apenando o servidor ou a instituição por desapropriar imóveis tecnicamente inviáveis para a exploração agropecuária convencional; considerando, por talinterpretação, malversação de recursos públicos.
Fortaleza, fev./2014

(1) Engenheiro Agrônomo, graduado pela Universidade Federal do Ceará;
Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará
Perito Federal Agrário do INCRA - CEARÁ