MAESTRO ESMERINDO CABRINHA DA SILVA. FONTE: AC2B |
Por Luiz Domingos de Luna.
Respirando a atmosfera artística e cultural de Cajazeiras/PB, pelas ruas, pelos
espaços concretos e abstratos, assim, ao chamado de qualquer instrumento musical,
ao acorde do som, ao movimento dos dedos, ao ritmo da composição, a harmonia
das orquestras; estava lá, sempre vigilante, sem pressa, doado por inteiro,
imergido nas ondas sonoras.Navegando na simplicidade, na humildade, na entrega
total, na missão intrínseca do seu ser,servir a sociedade na educação musical,
num processo contínuo, burilando no mundo mágico de sua criação as letras
sonoras que iriam libertar o homem das masmorras sociais,pois toda pequenez da
matéria, era pulverizada por um conjunto harmônico de sons vibratórios, dando
uma dimensão elástica do ser, na passagem temporal da existência; a cada nota,
expelida pelo fito musical, um sonho, um desejo, uma vontade determinada de salvar
a juventude das correntes de uma modernidade balofa. Gostava sempre de, em cada
fonte, um ponto de um novo nascimento, não um nascimento ditado, sistematizado,
na ordem, nas regras de conduta, mas no auto-nascimento, pois a cada músico, a possibilidade
plena do encontro entre o ‘Eu íntimo’ e o som projetado. É incrível como cada discípulo
de Esmerindo Cabrinha conseguia esculpir na alma a busca pela perfeição, uma perfeição
sem cobranças, sem normas, sem lei, sem correção, feita apenas com o olhar silencioso,
o olhar de quem acredita, de quem confia, era como se o olhar falasse ‘não se preocupe,
eu estou do seu lado, você consegue, você supera, você chega lá’. Este débito musical
dos alunos iniciantes sempre formava o paredão da ética, do compromisso, da
vontade de acertar, da determinação de mostrar para si e para o mundo que
aquele mestre não estava ali em vão, ou por um momento existencial efêmero, mas
sim, para abrir horizontes para jovens que só tiveram uma única oportunidade na
vida, a oportunidade de aprenderem com o Maestro Esmerindo Cabrinha da Silva,
isto era tudo que os alunos possuíam. Eu mesmo, quando da chegada do maestro em
Aurora, sempre atentamente, assistia às suas aulas, a sua didática me
contagiava, pois não era apenas um professor de música, era muito mais, um
humanizador, um construtor da cidadania, da ética, do respeito ao conjunto, e
por extensão a sociedade, por que não dizer a humanidade como um todo. Os alunos
de Esmerindo viam no maestro um instrumento afinado que tentava reconstruir o
espaço único da alma humana, numa luta contínua contra as intempéries
negativistas que sujam a história da humanidade. De minha convivência como meu
mestre musical, edificador da natureza humana em linhas suaves, decodificadas
ao brilho da harmonia, da melodia sonora, ficava sempre admirado com a sua
despreocupação com a grandeza do mundo material, pois para seu Esmerindo, a
riqueza do ser humano estava em projetar para o mundo um benfeitor musical e
social, um humanizador,conseguir isto, parecia algo utópico, mas no carrossel
do vendaval da existência, a marca de Esmerindo Cabrinha da Silva ficou
timbrada para sempre, esculpida no interior de cada um dos seus alunos que hoje
pavimentam nos mais diversos rincões deste país o celeiro de grandes músicos
que envaidecem o seu Estado natal, Paraíba, e a sua amada e nunca esquecida,
Aurora no Ceará.
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