Thomaz Alencar Batista: 90 anos, uma dádiva de Deus*
"A vida é a infância da nossa imortalidade",
dizia Goethe...
E o que diríamos nós,
simples mortais? Diante deste momento tão significativo em que nos reunimos
para comemorar nesta noite, a passagem dos 90 anos de vida do Sr. Thomaz
Alencar Batista, ou mais simplesmente “Seu Tomás?” - Um homem por quem a
própria vida teve que passar necessariamente pelo árduo ofício do trabalho, na
busca incessante pela sobrevivência.
“Seu Tomás”, portanto, é
mais que um simples vencedor. Um homem do seu tempo que em nenhum momento
perdeu as esperanças de que um dia o futuro pudesse ser melhor. “Seu Tomás” por
fim, é uma dessas figuras humanas que consegue se sobrepor às demais, não pelo
orgulho (puro e simples) de ter alcançado em plena lucidez o seu nonagésimo
aniversário de sua idade física.
Mas, sobretudo pelo
exemplo que nos dá, do afeto e do amor dedicado, tanto à família quanto ao
trabalho e ao próximo. Seus 90 anos, portanto, representam o resultado de uma
longa história de vida, toda ela marcada pela força da esperança com a
convicção de ter sempre combatido o “bom-combate”. Movido sempre por um esforço
hercúleo, o homem Tomás foi quase um predestinado em cujas mãos carrega até
hoje a convicção de que o trabalho é sempre o melhor caminho. Um exemplo para
os seus filhos; quase como um manual de ‘vida longa’ a ser também imitado e
admirado por todos quantos o conhecem e privam da sua amizade.
Nascido em 30 de março de
1917 no sítio Batedor, na época município de Milagres e hoje pertencente ao
Barro, Thomaz Alencar Batista teve como genitores o Sr. João Batista de Araújo
e a Srª Antonia Alencar de Araújo. Cedo, aos seis anos ficara órfão de pai,
tendo em tenra idade, que assumir a função de chefe de família passando a
ajudar sua mãe e seus irmãos mais novos nas tarefas domésticas do dia-a-dia e
no roçado. Foram dias longos e difíceis. Porém o jovem Thomaz soubera suportar
e resistir como gente grande...
Aos oitos anos, Thomaz e
sua família mudaram-se para o sítio Cuncas no vizinho município de Barro quando
dali em diante passou a trabalhar a terra tirando do chão o necessário sustento
da sua família. Aos 15 entrou para a vida de “tropeiro viajante”, uma espécie
de mascate sertanejo comercializando de tudo pelo Cariri afora. Na época, era
ele naquela ribeira que trazia e que levava pelo sertão adentro as novidades,
tanto em matéria de mercadoria quanto em forma de “notícias”. A vida não
parecia fácil para o jovem Thomaz, mas ele tinha já naqueles anos, a ousadia e
a fé, que mais tarde o marcariam para sempre. Aos 27 anos decidiu casa-se com a
Srª Antonia Benício de Luna (sua primeira esposa) de cujo enlace nasceu sua
única filha – Maria da Glória, atualmente residente na capital cearense (mãe de
4 filhos e avó de 3 netos).
No início de 1958, sua
esposa Antonia adoece e no leito de morte, faz um pedido a sua melhor amiga -
Expedita de Luna Rangel. Pede-a que case com Thomaz. Cerca de dois meses depois
do seu desencarne, o compromisso foi sacramentado. Thomas contrai segundas
núpcias com Expedida de Luna (sua atual esposa) cujo matrimônio permanece até
os dias atuais. Em seguida, o novo casal decide mudar-se para o Tipi de Aurora,
região na qual residiram por vários anos sob a labuta da agricultura e nas
horas de folga da compra e venda de mercadorias. Naqueles anos difíceis, Tomás
era por assim dizer, “pau pra toda obra”: agricultor, caixeiro viajante,
vendeiro (e pasmem) até parteiro se aventurou a ser, na ânsia de poder ajudar
quem assim necessitasse.
Em 1960 nasce o seu 1º
filho (fruto do seu segundo casamento) – João Bosco de Luna Alencar, casado com
a Srª Liduína Cavalcante que lhe deram como netos: Thiago, Thaynara e Thalyta.
Em 63 nasce o seu 2º rebento – Vicente de Luna Alencar, solteiro, formado em
história, atualmente diretor deste importante educandário. Em 65 nasce o seu
filho Roberto de Luna Alencar, tendo este falecido aos 15 anos de idade.
Passados os transtornos dessa trágica perda; eis que em 1969 veio ao mundo:
Francisco de Luna Alencar (Orlando), casado com Rosângela Santos, residente
aqui mesmo em Aurora.
Como um homem
essencialmente dedicado aos afazeres do cotidiano, Thomaz nunca perdeu de vista
a importância do estudo como instrumento de crescimento e preparação. E assim,
seus filhos puderam enfrentar, todas as ‘intempéries’ da vida na construção do
seu próprio destino. De modo que, mesmo residindo na zona rural sempre
incentivou como pôde a sua prole a vir para a cidade, a fim de que pudessem
galgar os caminhos do saber e do conhecimento. Tempos depois, Thomaz passou a
exercer o ofício de "juiz de paz" da vila Tipi. Passando em seguida,
a função de vigilante na agência local do Banco do Estado do Ceará (BEC)
posição em que doravante se aposentou.
Antes de qualquer outra
coisa, Tomás foi um homem da ação que ousou o tempo todo sonhar por seus
filhos, como alguém que profetizasse grandes bonanças nos horizontes do amanhã.
Há quem diga, inclusive,
que “Seu Tomáz” tem uma saúde de ferro, uma memória de elefante e uma sabedoria
acumulada de valor inigualável. Digamos que em parte isso é verdade. Mas não
nos esqueçamos que em 1995 o decano dos Alencar, teve que ser submetido a uma
cirurgia na qual sofrera bastante. Mas ele, uma vez mais, conseguiu superar
obstáculos... Todavia, em 1997 vitimado por uma forte pneumonia o velho Tomáz
sofreu mais um revés na sua resistência física, ao ponto de ser até mesmo
desenganado por alguns médicos que chegaram por sinal, a numerar os dias de
vida que lhe restavam... Contudo, dotado de uma saúde literalmente de leão,
“Seu Tomáz” deu a volta por cima: E hoje está aqui (para ele próprio)
contar-nos a sua história. Uma história que, (diga-se de passagem), de tão
afirmativa, precisa não apenas ser contada, mas principalmente ser comemorada;
por ser ela, a própria história e o retrato da superação.
Hoje, portanto, do alto
desses invejáveis 90 anos: descendem da árvore genealógica de “Seu Tomáz”, além
de 4 filhos, 7 netos e 4 bisnetos. Como também, um sem-número de amigos e mais
uma imensa legião de simpatizantes da sua longevidade, gloriosa, divina e
proverbial...
Por tudo que ele
representa, podemos muito bem afirmar que esta noite é mais que um simples
momento festivo, convencional... Muito mais que isso, trata-se de uma notória e
verdadeira consagração. Um instante eterno, daqueles onde os deuses da
longevidade descem a terra para brindar tão jubiloso acontecimento. Por isso,
haveremos todos de lembrá-lo por muito tempo. Afinal, não é todo dia que
ficarmos frente a frente com um ser humano especial, que muito mais que o exemplo,
conseguir superar-se a si mesmo, para neste dia dizer-nos de alto e bom som –
que a velhice não existe e que a juventude é, de fato, um mero estado de
espírito. Foi assim, com a disposição de lutar ante a aquiescência de Deus, que
ele conseguiu superar a própria cronologia do tempo e da idade.
Então: Vida longa a “Seu
Tomás” nestes seus 90 anos de existência...
Parabéns, grande mestre!!
Prof. José Cícero
Escritor, pesquisador e
poeta.
Aurora - Ce.
(*) Crônica apresentada na
festa de aniversário dos 90 anos de "Seu Tomás" na noite do dia 30 de
março no Col. Monsenhor de Aurora-CE.
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