Por José Cícero*
Prestes
a completar 90 anos o colégio Monsenhor Vicente Bezerra da rede estadual de
ensino – de longe o mais antigo e tradicional estabelecimento educacional de
Aurora, está na iminência de fechar suas portas para sempre. Caso nada seja
feito desde já.
Uma
decisão de cima que vem se arrastando já há alguns anos, mas que só no ano
passado ganhou corpo quando o educandário foi obrigado a abrir mão do seu horário
noturno. Registrando assim, um dos mais baixos números de alunos matriculados
nestes seus 87 anos de história e de profícua contribuição à formação moral,
ética e educacional da sociedade aurorense e do Cariri Oriental.
Praticamente
proibido de receber novas matrículas este ano, o vetusto colégio está a sofrer
um ‘fechamento chapa branca’. Na prática, uma forma de provocar o seu
fechamento aos poucos. Quem sabe isso aconteça no ano que vem diante deste evidente processo de
debilidade compulsiva.
Ora,
se o número de alunos está oscilante o segredo é priorizar a campanha de
convencimento alicerçada na competência; a divisão conjunta, o chamamento de novos educandos e não
o contrário. Por outro lado, como ficarão os que trabalham durante o dia, com o fechamento do
horário noturno? Por que os pais e os
próprios estudantes não podem ter a liberdade de escolher o estabelecimento que
mais lhes convêm?
De resto, está mais do que provado que o número excessivo de
alunos por sala, é um fator que interferem no próprio processo da
aprendizagem. Dividi-los seria, portanto, uma opção importante e providencial.
Também não se pode enxergar educação como gasto, mas sim como investimento no
futuro da nação. No mais, em se tratando de
educação, principalmente agora diante do tão propalado ‘padrão Fifa da
tal Copa’, não
caberá mais a velha ótica do chamado: Custo x Benefício, pelo menos para
um setor tão essencial e estratégico como a formação dos nossos
cidadãos.
Este
ano o colégio só foi autorizado a funcionar com os estudantes egressos dos anos
anteriores, ou seja, que já se encontravam matriculados na escola. Uma medida
que, para a comunidade soa como estranha e fora de qualquer propósito isonômico.
Estudantes
novatos estão terminantemente impedidos de ingressarem na referida escola. Algo
que destoa da tão decantada ideia/proposta de uma escola pública acessível o
mais próxima possível da população, sobretudo dos que residem no seu entorno. Mesmo
que o colégio esteja estrategicamente inserido no coração do maior e mais
populoso bairro da cidade – o Araçá. Como se ver, uma contradição sem
precedente.
Mesmo
que funcione precariamente este ano, tudo não deixa de ser um fechamento
compulsório. Ao que tudo indica, o fechamento em definitivo acontecerá no
próximo ano, dada a queda no número de alunos.
Um legado histórico:
Destarte,
com o fechamento do colégio Monsenhor deleta-se também toda uma história de
quase 90 anos de lutas e de conquistas em favor de uma educação realmente social e de
qualidade para os aurorenses.
No
tempo em que a educação era um privilégio para poucos, foi justamente o colégio
Monsenhor(antigo Grupo escolar) oriundo das antigas ‘escolas reunidas’ inaugurado no dia 1º de março de 1927, quem
protagonizou o mais notório exemplo de escola pública e democrática já
experimentado em solo aurorense e na região circunvizinha. Posto que pelos seus
bancos passaram, desde os mais humildes estudantes aurorenses, até mesmo os
filhos dos grandes potentados daquela época. Reconhecidos valores da
intelectualidade e do humanismo da terra têm seus nomes
registrados nos anais da história do Monsenhor. Gente que até hoje se
pontificam com absoluto sucesso nos mais diversos ramos e atividades
profissionais deste país.
Portanto,
uma história pioneira que não pode e nem deve terminar assim, de maneira triste,
lamentável e melancólica. Um ato da mais absurda ingratidão. Um desserviço à
cultura e a educação da terra de Serra Azul, Aldemir Martins e Hermenegildo de
Sá Cavalcante...
Todos
os verdadeiros filhos e amigos de Aurora têm uma profunda dívida de gratidão
com este educandário quase secular. Um verdadeiro patrimônio que precisa
continuar vivo e em atividade, prestando seus relevantes serviços a esta
municipalidade.
Fechar
o Monsenhor é apagar para sempre uma página importante do grande livro do humanismo
e do saber aurorense. Que nenhum filho desta terra não se permita, por nenhum
motivo alheio a este legado, deixar ‘bater o martelo da indiferença’ em prol deste
fechamento. Porque, não resta dúvida, a indiferença será
pura conivência. E a posteridade um dia haverá de vos cobrar muito por conta
desta passividade descomprometida com o passado, o presente e o futuro da terra do senhor Menino Deus.
Que
assim como a comunidade, funcionários e docentes do velho Monsenhor não se
façam calar diante desta ingerência absurda. Porque o medo não constrói.
Defender a continuidade desta escola é a um só tempo: razão e emoção, somadas ao
fator necessidade e tradição...
No mais; igualmente às boas ideias, nunca se mata uma bela história... Vamos à luta porque a causa
é nobre. Todos pelo Monsenhor. Porque o Monsenhor é de todos... E por isso precisa continuar!
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Prof. José
Cícero
Secretário de Cultura e Turismo
Aurora
– CE.
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