quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A INFLUÊNCIA DO DESMATAMENTO PARA OS MORADORES DO SITIO GITIRANA, AURORA - CE¹


Gilvan Alves da Silva² e João Tavares Calixto Júnior2


RESUMO

Este trabalho objetiva investigar o nível de conhecimento sobre o desmatamento ocorrente em área de caatinga do sitio Gitirana no município de Aurora, Sul do Ceará, com o propósito de esclarecer as causas e conseqüências do tema em questão, enfatizando as principais características do bioma e apontando as consequências prioritárias do desmatamento para a população local. A pesquisa na localidade foi feita com base em observações in loco e utilização de questionário semi-estruturado com os moradores. De acordo com os resultados obtidos pode-se apontar o alto grau de desinformação da população local sobre todos os aspectos enfocados na pesquisa. Salienta-se ainda uma grande resistência sobre as mudanças de hábito necessárias à preservação da flora nativa com uma conseqüente melhoria da qualidade de vida dessa população.


INTRODUÇÃO

A região Nordeste brasileira ocupa aproximadamente 1.600.000 Km², o equivalente a cerca de 18% da superfície do Brasil, estando nesta área, inserida a região semiárida, que ocupa uma área que abriga 63% da população nordestina, com cerca de 900 mil Km², correspondendo a aproximadamente 70% da região Nordeste e 13% do território brasileiro. A importância ecológica dessa região se dá antes de tudo pela existência de um bioma único em sua maior parte. Esse bioma, peculiar e exclusivo, recebeu dos índios locais o nome de Caatinga, “a mata branca”, em virtude do aspecto da vegetação na estação seca, quando as folhas caem, e apenas os troncos brancos e brilhosos das árvores e arbustos permanecem (PRADO, 2003; CALIXTO JÚNIOR, 2009).
Desde o descobrimento do Brasil o homem vem destruindo a nossa flora e fauna tudo pelo dinheiro e sem a menor preocupação com o seu semelhante e muito menos com os outros seres vivos.
A caatinga, o bioma estudado, é a vegetação natural da localidade, sendo considerado o mais negligenciado dos existentes no Brasil, já que se encontra em regiões de baixo índice pluviométrico e relativa pobreza de espécies. De forma geral essa vegetação é formada por arbustos, árvores baixas, retorcidas e cheias de espinhos representadas principalmente por indivíduos das famílias Caesalpiniaceae, Mimosaceae, Euphorbioaceae e Cactaceae, todos adaptados a clima quente e seco.
A ocupação do ser humano na caatinga está trazendo grandes problemas, pois além dos fenômenos naturais, ainda existe a destruição antrópica em níveis elevados. Depois de tantos séculos de ocupação e com tanta tecnologia existentes pouco se sabe desse bioma, tornando-se urgente a necessidade de investigação científica que elucide problemas ecológicos nele existentes. O que mais interfere no desenvolvimento dessa vegetação são os desmatamentos para formação de pastagens e criação de gado, extração de madeira para padarias, cerâmica e o uso doméstico e também o manuseio da terra para a agricultura de forma indiscriminada, pois a falta de conhecimento da comunidade e o não investimento governamental para novas alternativas estão levando a caatinga à desertificação.
Como conseqüências do desmatamento existem vários fatores; a falta de vegetação que provoca um aumento na temperatura do planeta, tendo em vista que as plantas retiram do ar o (CO2) para realização da fotossíntese, com menos árvores esse gás acumulado na atmosfera funciona como uma parede de vidro em torno do planeta deixando a luz solar passar, mas retém o calor, provocando assim o efeito estufa, outra grande conseqüência é a diminuição de água no subsolo, pois com menos vegetação as águas pluviais caem e escorre rapidamente impedindo assim a penetração no solo, com isso as águas subterrâneas estão cada vez mais profundas, outros, fatos que fazem com que as águas fiquem mais profundas são os poços artesianos e as bombas de água enormes funcionando diariamente e sem controle.
A população brasileira já sente os efeitos colaterais do descaso com os nossos biomas, para cada agressão do ser humano, o planeta reage com um poder muito maior, destruindo até mesmo cidades, essas destruições naturais são para que o planeta se equilibre novamente, pois só existe vida se existir um equilíbrio natural.
As catástrofes naturais estão se intensificando, isso se deve ao descaso e a ignorância do ser humano, e se não houver uma tomada de consciência da população mundial a cada ano se presenciará catástrofes maiores.
Diante do exposto, a pesquisa sobre as causas e consequências do desmatamento pelos moradores do Sitio Gitirana, município de Aurora-CE (Figura 01), tem como intuito um levantamento do nível de conhecimento da população local sobre o tema e a análise dos aspectos que levaram ao atual nível de degradação ambiental na localidade e, a partir daí, poder desenvolver programas que visem à recuperação do ambiente degradado
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REVISÃO DE LITERATURA

O Bioma Caatinga

Do ponto de vista do meio ambiente, dois dos maiores problemas associados ao semi-árido são o elevado grau de degradação ambiental e o baixo conhecimento quantitativo e qualitativo de sua biodiversidade. O Bioma caatinga é, provavelmente, o menos estudado em relação à flora e à fauna e um dos que têm sofrido maior degradação, pelo uso desordenado e predatório, nos últimos 400 anos. Assim, em relação ao meio ambiente no semiárido, algumas das linhas de pesquisa que devem ser priorizadas são aquelas voltadas para um melhor conhecimento da biodiversidade e do seu uso pelas populações locais, que deveriam se constituir na base de qualquer programa que vise o desenvolvimento sustentável da região. Isso se justifica pelo fato do semiárido apresentar uma das biotas mais particulares do mundo, em composição e adaptações às condições do meio (DUARTE, 1992; CALIXTO JÚNIOR, 2009).
Andrade-Lima (1966), estabeleceu quatro tipos de caatinga no semiárido nordestino: Caatinga Arbórea; Caatinga Aberta, Caatinga Arbustiva Aberta ou Seridó e Caatinga Irreversivelmente Degradada, e apesar de não espacializar a caatinga arbustivo-arbórea, reconheceu sua existência (RODAL, et al., 2008).
Posteriormente, Andrade-Lima (1966), identificou seis grandes unidades vegetacionais na caatinga nordestina: a primeira inclui a porção sul da região semi-árida, com 800 a 1000 mm/ano de precipitação pluviométrica, apresentando árvores de até 30 m; a segunda representa as típicas caatingas florestais e caracteriza-se por um estrato arbóreo com árvores entre 7 e 15 m, ocorrendo principalmente em solos derivados do cristalino; a terceira ocupa solos de origem sedimentar e distingue-se por uma vegetação baixa, entre 5 e 7 m; a quarta ocorre em solos derivados de granito gnaisse, e xistos, sendo difícil saber se é uma formação natural ou induzida pelo homem; a quinta ocorre espalhada no semiárido em locais com precipitação bastante reduzida e a sexta ocupa as florestas de galeria do semi-árido (ANDRADE-LIMA, 1981; CALIXTO JÚNIOR, 2009).
A região enfrenta também graves problemas sociais, entre eles os baixos níveis de renda e escolaridade, a falta de saneamento ambiental e os altos índices de mortalidade infantil. Desde o período imperial, tenta-se promover o desenvolvimento econômico na caatinga, porém, a dificuldade é imensa em razão da aridez da terra e da instabilidade das precipitações pluviométricas (BRASIL ESCOLA, 2011).
A principal atividade econômica desenvolvida na caatinga é a agropecuária. A agricultura se destaca na região através da irrigação artificial, possibilitada pela construção de canais e açudes. Alguns projetos de irrigação para a agricultura comercial são desenvolvidos no médio vale do São Francisco, o principal rio da região, juntamente com o Parnaíba (BRASIL ESCOLA, 2011).
Conforme (CAVALCANTE; NASCIMENTO 2006), a vegetação adaptou-se ao clima seco para se proteger. As folhas, por exemplo, são finas ou inexistentes. Algumas plantas armazenam água, como os cactos, outras se caracterizam por terem raízes praticamente na superfície do solo para absorver o máximo da chuva.
As plantas da caatinga são xerófilas, ou seja, adaptadas ao clima seco e a pouca quantidade de água. Algumas armazenam água, outras possuem raízes superficiais para captar o máximo de água da chuva. E há as que contam com recursos pra diminuir a transpiração, como espinhos e poucas folhas. A vegetação é formada por três estratos: o arbóreo, com árvores de 8 a 12 metros de altura; o arbustivo, com vegetação de 2 a 5 metros; e o herbáceo, abaixo de 2 metros. Entre as espécies mais comuns estão à amburana, o umbuzeiro e o mandacaru. Algumas dessas plantas podem produzir cera, fibra, óleo vegetal e, principalmente, frutas (BRASIL ESCOLA, 2011).
 Conforme Brasil Escola (2011), a fauna da caatinga é bem diversificada, composta por répteis (principalmente lagartos e cobras), roedores, insetos, aracnídeos, cachorros do mato, arara azul, (ameaçada de extinção), sapo cururu, asa branca, cutia, gambá, preá, veado catingueiro, tatupeba, sagui do nordeste, entre outros animais.
Segundo A Caatinga (2011), a Caatinga é uma das regiões semi-áridas mais populosas do mundo. O sistema vem sofrendo historicamente drásticas modificações devido às ações humanas. O estudo "A Conservation Assessment of the Terrestrial Ecoregions of Latin America and the Caribbean", realizado pelo Banco Mundial e a WWF, define prioridades para a conservação da biodiversidade, as quais são estabelecidas em seis níveis por ordem de relevância, assim estipulados: Prioridades I, I, II, III, IV e V. O ecossistema caatinga está classificado no nível I. Esta alta prioridade é alcançada quando se considera que além da situação de vulnerabilidade do ecossistema, deva ser acrescentada a sua representatividade para a biorregião.
Com efeito, "os domínios de caatinga" estão presentes em quase todo o Nordeste brasileiro, ou ainda, mais precisamente, na área denominada de Polígono das Secas, que inclui parte do norte do estado de Minas Gerais. A essa representatividade, somam-se os aspectos físicos e as formas de exploração econômica do ecossistema, resultando daí a sua vulnerabilidade (A CAATINGA 2011).
Realmente, a forma de exploração adotada através dos tempos contribuiu fortemente para que o Nordeste se tornasse, hoje, a área mais vulnerável do país à incidência da degradação ambiental: meio ambiente frágil, fundamentado em grande parte sobre um embasamento cristalino, com solos rasos, com amplas zonas tropicais semi-áridas e forte pressão demográfica. Além disso, a questão econômico-social da grande parcela da população nordestina, residente no semi-árido de dominação da caatinga é, sem dúvida, a causa principal de degradação do ecossistema. O uso dos recursos da flora e da fauna pelas necessidades do homem nordestino é uma constante, já que ele não encontra formas alternativas para o seu sustento (A CAATINGA, 2011).
A lenha e o carvão vegetal, juntos, é a segunda fonte de energia na região, perdendo somente para a eletricidade. Em 1992, a lenha e a estaca destacaram-se como os principais produtos de origem florestal. No Ceará 91% das Unidades de Produção Rural (UPR) extraíram lenha, enquanto 46% produziram estacas (A CAATINGA, 2011).
A cobertura vegetal está reduzida a menos de 50% da área dos estados e a taxa anual de desmatamento é de aproximadamente meio milhão de hectare. Por outro lado, o desmatamento e a caça de subsistência são os principais responsáveis pela extinção da maioria dos animais de médio e grande porte nativos do semi-árido. O hábito de consumir animais da fauna autóctone é antigo, vindo desde antes da colonização e, ainda hoje, é grande a importância social da fauna nativa nordestina. As principais fontes de proteína animal das populações sertanejas continuam sendo a caça e a pesca predatórias. Durante as grandes secas periódicas, quando as safras agrícolas são frustradas e os animais domésticos dizimados pela fome e pela sede, a caça desempenha importante papel social na região, por fornecer carne de alto valor biológico às famílias famintas do sertão (A Caatinga, 2011).
Mesmo com todas essas ameaças, o percentual de áreas protegidas e/ou sob forma de unidades de conservação é insignificante. Embora ocupe 11% do território nacional, apenas 0,45% desta ecorregião encontra-se em unidades de conservação, a maioria destas protegendo hábitats de transição entre caatinga e outros sistemas, como o cerrado e a mata atlântica (A CAATINGA, 2011).
No meio de tanta aridez, a Caatinga surpreende com suas "ilhas de umidade" e solos férteis. São os chamados brejos, que quebram a monotonia das condições físicas e geológicas dos sertões. Nessas ilhas é possível produzir quase todos os alimentos e frutas peculiares aos trópicos do mundo. Essas áreas normalmente localizam-se próximas às serras, onde a pluviosidade é maior, devido às chuvas orográficas (CAVALCANTE; NASCIMENTO 2006).

MATERIAL E MÉTODO

A base teórica do trabalho foi a pesquisa exploratória, uma vez que segundo, Gonsalves (2001), a pesquisa exploratória é aquela que se caracteriza pelo desenvolvimento e esclarecimentos de idéias, com objetivo de oferecer uma visão panorâmica, uma primeira aproximação a um determinado fenômeno que é explorado.
 Os sujeitos norteadores da pesquisa foram os moradores da localidade estudada. Foi feito uma pesquisa de campo, pois ela permite buscar dados diretamente com os sujeitos, seguindo o sugerido por Gonsalves (2001), denomina pesquisa de campo o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada.
A coleta de dados teve como apoio o uso de um questionário semiestruturado (Figura 01) que abordou perguntas a respeito do conhecimento destas pessoas sobre as causas e consequências do desmatamento da referida localidade.
O processo de análise de dados foi feito de forma qualitativa através de um aprofundamento teórico sobre o tema. Foi utilizada também uma câmera fotográfica para capturar as imagens da degradação da localidade estudada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao visitar o local da pesquisa constatou-se a caracterização do desmatamento conforme observa-se nas Figuras 02 a 06, que o solo está desnudo de vegetação. A área foi desmatada para plantio agrícola e de pastagem.
Depois da coleta de dados analisaram-se as respostas considerando o conhecimento de cada sujeito entrevistado. De acordo com as respostas relatadas no questionário constatou-se que 90% dos entrevistados apresentaram ser desinformados sobre as causas e conseqüências do desmatamento. Disseram também que as noticias de economizar água é tolice, pois a água que existe no subsolo não se acaba. Indagaram que se não pode desmatar o que se pode fazer para plantar? Com isso nota-se que pouco interessa as tantas noticia de conscientização para o não desmatamento.
Apenas 10% mostraram ter ciência sobre as conseqüências do desmatamento, mas mesmo assim continuam desmatando, alegando que é a única alternativa para os agricultores.  
Verificou-se também que as pessoas na localidade sempre desmataram, seja para plantar, extração de lenha ou estacas para vendas ou consumo.
Com relação à forma de cultivo a maioria das pessoas sempre planta o mesmo vegetal, ou seja, se utilizam na monocultura tornando assim o solo cada vez mais pobre, pois alegam que por tradição só plantam as mesmas sementes.
Os moradores da localidade mostraram sentir mudanças no tempo e que as chuvas estão mais escassas e tardias, mas colocam a culpa em Deus dizendo: “se não vier às chuvas é porque Deus não quer”.
           

CONCLUSÃO
              De acordo com os resultados obtidos pode-se apontar o alto grau de desinformação da população local sobre todos os aspectos enfocados na pesquisa. Salienta-se ainda uma grande resistência sobre as mudanças de hábito necessárias à preservação da flora nativa com uma conseqüente melhoria da qualidade de vida dessa população.
Outro fato de visível observação é que depois de um desmatamento na caatinga da área estudada, onde havia muitas espécies de vegetação, a recuperação se dar por poucas espécies, predominando a espécie Balizia pedicellaria (jurema).
Uma alternativa para tal problema por parte dos governantes era colocar um valor para cada agricultor que preservasse uma determinada porcentagem de sua mata.


REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

CAVALCANTE, Márcio Balbino; NASCIMENTO, Silvânia Maria de Souza Gomes. Áreas Protegidas na Caatinga: Um estudo de caso no Parque Estadual da Pedra da Boca. Artigo apresentado a Disciplina Estudos de Impactos Ambientais (EIA), Curso de Especialização em Ciências Ambientais – FIP/PB, 2006.
GONSALVES, Elisa Pereira – Conversa sobre iniciação a Pesquisa Cientifica-Campinas. São Paulo: Ed. Alínea, 2001.

CALIXTO JÚNIOR, João Tavares - Análise estrutural de duas fitofisionomias de caatinga em diferentes estados de conservação no semiárido pernambucano - CSTR/UFCG, 2009.

<http://www.acaatinga.org.br/caatinga.php>. Acesso em: 03 jan. 2011.

<www.acaatinga.org.br/asabranca.php>. Acesso em: 03 jan. 2011.

<http://brasilescola.com/brasil/caatinga.htm>. Acesso em: 14 jan. 2011.

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